“ROGO-VOS, POIS, IRMÃOS, PELAS MISERICÓRDIAS DE DEUS” - INTRODUÇÃO
“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis
o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso
culto racional” (Rm 12.1).
O apóstolo Paulo considerou até aqui aquelas questões que lhe eram
indispensáveis como ponto de partida para o soerguimento do reino de Deus.
Nossa busca pela justiça deve deter-se somente em Deus; a contemplação de nossa
salvação deve estar voltada para sua misericórdia; e a soma de todas as nossas
bênçãos é posta diante de nós e nos é diariamente oferecida em Cristo - e em nenhum
outro! Ele agora avança em direção da regulamentação de nossas ações morais,
seguindo um arcabouço bem ordenado. Visto que a alma é regenerada para uma vida
[de natureza] celestial, por meio daquele conhecimento salvífico de Deus e de
Cristo; e nossa própria vida é formada e regulada por preceitos e exortações
santos, revelar entusiasmo pela ordenação de nossa vida seria em vão se
primeiro não demonstrarmos que a origem de toda a justiça do homem deve ser
encontrada só em Deus e em Cristo. Isto é o que significa levantar os homens
dentre os mortos.
Esta é a principal diferença entre o evangelho e a filosofia. Ainda
que os filósofos abordem temas esplendidamente de cunho moral, com inusitada
habilidade, no entanto todo o ornamento que sobressai de seus preceitos nada é
senão uma bela superestrutura sem um sólido fundamento; porque ao omitir
princípios, eles não fazem outra coisa senão propor uma doutrina mutilada, como
um corpo sem cabeça. Este é exatamente o mesmo método de doutrinamento entre os
católicos romanos. Embora falem incidentalmente sobre a fé em Cristo e da graça
do Espírito Santo, é plenamente evidente que se avizinham mais dos filósofos
pagãos do que de Cristo e seus discípulos.
Como os filósofos, antes de legislarem sobre moralidade, discutem o
propósito da bondade e inquirem acerca das fontes das virtudes, das quais, por
fim, extraem e derivam todos os deveres, assim Paulo estabelece, aqui, o
princípio do qual fluem todas as partes que compõem a santidade, ou seja: que
somos redimidos pelo Senhor com o propósito de consagrar-lhe a nós mesmos e a
todos os nossos membros.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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