“ROGO-VOS, POIS, IRMÃOS, PELAS MISERICÓRDIAS DE DEUS” - PARTE I
“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis
o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso
culto racional” (Rm 12.1).
Sabemos muito bem como os devassos alegremente se apegam a tudo quanto
a Escritura proclama concernente à bondade infinita de Deus, e isso com o
propósito de desfrutarem ao máximo da carne. Os hipócritas, em contrapartida,
maliciosamente obscurecem seu conhecimento da bondade divina, tanto quanto
podem, como se a graça de Deus extinguisse sua busca por uma vida de piedade e
lhes abrisse uma ampla porta a fim de viverem ousadamente em pecado. A súplica do
apóstolo Paulo nos ensina que os homens jamais adorarão a Deus com sinceridade
de coração, nem se despertarão para o temor e obediência a Deus com suficiente
zelo, enquanto não entenderem consistentemente, quanto são devedores para com a
misericórdia de divina. As seitas e os hereges consideram como sendo suficiente
se conseguem infundir algum gênero de obediência forçada através do medo.
Paulo, contudo, com o fim de subjugar-nos a Deus, não por meio de um temor
servil, mas através de um amor voluntário e anelante por justiça, nos atrai com
suavidade para aquela graça na qual consiste nossa salvação. Ao mesmo tempo, ele
reprova nossa ingratidão se porventura, depois de experimentarmos a ação
bondosa e liberal de nosso Pai celestial, não pusermos todo o nosso empenho em
total dedicação a ele.
A ênfase de Paulo, ao exortar-nos como faz, é de todas a mais
poderosa, e ele mesmo excede a todos na glorificação da graça de Deus. O
coração que não se deixa incendiar pela doutrina da graça, e não arde de amor
por Deus, cuja bondade para com ele é infinitamente profusa, deve ser de aço [e
não de carne]. Onde, pois, estão aqueles para quem todas as exortações que visem
a uma vida honrada não têm razão de ser, já que a salvação do homem depende tão-somente
da graça divina? Para estes, uma mente piedosa não é formada para obedecer a
Deus por meio de preceitos ou sanções, e nem ainda por meio de meditações
sérias sobre a benevolência divina em seu favor.
Podemos observar, ao mesmo tempo, a candidez do coração do apóstolo,
visto ter ele preferido tratar com os crentes em termos de admoestações e súplicas
fraternais do que em termos de ordenanças estritas. Ele sabia muito bem que
desta forma iria alcançar mais resultado entre aqueles que se dispuseram a ser
instruídos.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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