“GEMIDOS INEXPRIMÍVEIS”
“Também o Espírito, semelhantemente, nos
assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo
Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26).
O apóstolo Paulo havia falado acerca do testemunho do Espírito, pelo
qual ficamos sabendo que Deus é nosso Pai e no qual ousamos confiadamente
invocá-lo (Rm 8.15). Ele agora reitera a segunda parte relativa à invocação, e
diz que somos ensinados pelo mesmo Espírito como devemos orar a Deus e o que
devemos pedir-lhe em nossas orações.
Ainda quando não pareça que nossas orações
tenham sido realmente ouvidas por Deus, o apóstolo conclui que a presença da
graça celestial já se manifesta no próprio zelo pela oração, visto que ninguém,
de seu próprio arbítrio, conceberia que suas orações são sinceras e piedosas. É
verdade que os incrédulos engendram irrefletidamente suas orações, mas o que
fazem é zombar de Deus, visto que não há sinceridade ou seriedade neles ou um
padrão corretamente ordenado. O Espírito, portanto, é quem deve prescrever a
forma de nossas orações. O apóstolo chama de inexprimíveis os gemidos que irrompem de dentro de nós ao impulso
do Espírito, visto que vão muito além da capacidade de nosso intelecto. Diz-se
que o Espírito de Deus intercede, não
porque ele porventura se humilhe como um suplicante a orar e a gemer, mas
porque inspira em nossos corações as orações que são próprias para nos
achegarmos a Deus. Ele afeta de tal forma os nossos corações que estas orações,
pelo seu fervor, penetram o próprio céu. Paulo assim se expressou com o propósito
de atribuir a totalidade da oração mais significativamente à graça do Espírito.
Somos incitados a clamar (Mt 7.7). Mas ninguém, por sua própria iniciativa
pronunciaria uma só sílaba, com discernimento, se Deus não ouvisse o clamor de
nossas almas que cedem ao impulso secreto de seu Espírito, e não abrisse nossos
corações para ele mesmo.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).