"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



terça-feira, 30 de janeiro de 2024

“GEMIDOS INEXPRIMÍVEIS”


“GEMIDOS INEXPRIMÍVEIS”

“Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26).

O apóstolo Paulo havia falado acerca do testemunho do Espírito, pelo qual ficamos sabendo que Deus é nosso Pai e no qual ousamos confiadamente invocá-lo (Rm 8.15). Ele agora reitera a segunda parte relativa à invocação, e diz que somos ensinados pelo mesmo Espírito como devemos orar a Deus e o que devemos pedir-lhe em nossas orações.

Ainda quando não pareça que nossas orações tenham sido realmente ouvidas por Deus, o apóstolo conclui que a presença da graça celestial já se manifesta no próprio zelo pela oração, visto que ninguém, de seu próprio arbítrio, conceberia que suas orações são sinceras e piedosas. É verdade que os incrédulos engendram irrefletidamente suas orações, mas o que fazem é zombar de Deus, visto que não há sinceridade ou seriedade neles ou um padrão corretamente ordenado. O Espírito, portanto, é quem deve prescrever a forma de nossas orações. O apóstolo chama de inexprimíveis os gemidos que irrompem de dentro de nós ao impulso do Espírito, visto que vão muito além da capacidade de nosso intelecto. Diz-se que o Espírito de Deus intercede, não porque ele porventura se humilhe como um suplicante a orar e a gemer, mas porque inspira em nossos corações as orações que são próprias para nos achegarmos a Deus. Ele afeta de tal forma os nossos corações que estas orações, pelo seu fervor, penetram o próprio céu. Paulo assim se expressou com o propósito de atribuir a totalidade da oração mais significativamente à graça do Espírito. Somos incitados a clamar (Mt 7.7). Mas ninguém, por sua própria iniciativa pronunciaria uma só sílaba, com discernimento, se Deus não ouvisse o clamor de nossas almas que cedem ao impulso secreto de seu Espírito, e não abrisse nossos corações para ele mesmo.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba/PR.
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário. 

sábado, 27 de janeiro de 2024

“QUE ANDEIS DE MODO DIGNO DA VOCAÇÃO”


“QUE ANDEIS DE MODO DIGNO DA VOCAÇÃO”

“Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4.1-3).

O apóstolo Paulo discutira anteriormente a vocação; agora lhes recomenda que não se tornassem indignos de tão imensurável graça. Ao descer a detalhes, ele coloca a humildade em primeiro plano. A razão está no fato de que ele abordava a unidade; e a humildade é o primeiro passo para alcançá-la. Ela também produz mansidão, a qual nos faz pacientes. E ao sofrermos com nossos irmãos, conservamos a unidade que, de outra forma, seria quebrada mil vezes ao dia. Lembremo-nos, pois, que, ao cultivarmos a bondade fraternal, é essencial que comecemos com a humildade. De onde procede a insolência, a soberba e as injúrias lançadas contra os irmãos? De onde procedem as questiúnculas, os escárnios e as reprovações severas, a não ser do fato de cada um amar excessivamente a si próprio e de querer agradar em demasia a si próprio? Aquele que se desfaz da arrogância e cessa de agradar a si próprio se tornará manso e acessível.

Ao dizer: em amor, o apóstolo tem em mente o que ele diz em outros textos, ou seja: que a verdadeira natureza do amor está na paciência. Onde o amor governa e floresce, edificaremos muitíssimo uns aos outros.

Além do mais, é com boas razões que ele recomenda a paciência, a saber: para que a unidade do Espírito possa seguir em frente. Inumeráveis ofensas surgem diariamente, as quais podem aquecer as discórdias entre nós, particularmente em virtude de o espírito humano digladiar impulsionado por sua natural impertinência. Há quem considere a unidade do Espírito como aquela unidade espiritual que o Espírito de Deus efetua em nós. É sem qualquer sombra de dúvida que tão-somente ele [o Espírito] nos constrói com uma só mente, e dessa forma nos faz um só. Minha interpretação da frase, porém, é mais no sentido de harmonia de mente. Essa unidade, diz Paulo, é composta por o vínculo da paz; porquanto as discórdias com frequência despertam o ódio e ressentimento. Devemos viver em paz, caso desejemos que o espirito de bondade permaneça entre nós.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

“POIS SOMOS FEITURA DELE”


“POIS SOMOS FEITURA DELE”

“Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10).

O apóstolo Paulo prova o que diz, ou seja, que somos salvos pela graça, dizendo que nenhuma obra nos é de alguma utilidade para merecermos a salvação, porque todas as boas obras que porventura possuímos são os frutos da regeneração. Daí, segue-se que as próprias obras são uma parte da graça. Ao dizer que somos obra de Deus, sua intenção não é considerar a criação em geral, por meio da qual as pessoas nascem, senão que assevera que somos novas criaturas, as quais são formadas para a justiça pelo poder do Espírito de Cristo, e não pelo nosso próprio. Isso se aplica somente no tocante aos crentes, os quais, ainda que nascidos de Adão, ímpios e perversos, são espiritualmente regenerados pela graça de Cristo, e então começam ser um novo homem. Portanto, tudo quanto em nós é porventura bom, provém da obra supernatural de Deus. E segue-se uma explicação; pois ele adiciona que somos obra de Deus em razão de sermos criados, não em Adão, mas em Cristo, e não para qualquer tipo de vida, mas para as boas obras.

E agora, o que fica para o livre-arbítrio, se todas as boas obras que de nós procedem foram comunicadas pelo Espírito de Deus? Que os piedosos avaliem prudentemente as palavras do apóstolo. Ele não diz que somos assistidos por Deus. Ele não diz que a vontade é preparada e que, então, age por sua própria virtude. Ele não diz que o poder de escolher corretamente nos é conferido e que temos, a seguir, de fazer nossa própria escolha. Esse é o procedimento daqueles que tentam enfraquecer a graça de Deus (até onde podem), os quais estão habituados a falsear a verdade. Mas o apóstolo diz que somos obra de Deus, e que tudo quanto de bom exista em nós é criação dele. O que ele pretende dizer é que o homem como um todo, para ser bom, tem de ser moldado pelas mãos divinas. Não a mera virtude de escolher corretamente, nem alguma preparação indefinida, nem assistência, mas é a própria vontade que é feitura divina. De outro modo, o argumento de Paulo seria sem sentido. Ele tenciona provar que o homem de forma alguma busca a salvação por sua própria iniciativa, mas que a adquire gratuitamente da parte de Deus.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“PELA GRAÇA SOIS SALVOS”


“PELA GRAÇA SOIS SALVOS”

“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9).

O apóstolo tratara da eleição, da vocação gratuita, visando chegar à conclusão de que haviam obtido a salvação unicamente mediante a fé. Primeiramente, ele assevera que a salvação dos efésios era inteiramente a obra - e obra gratuita - de Deus; eles, porém, alcançaram essa graça por meio da fé. De um lado, devemos olhar para Deus; de outro, para o homem. Deus declara que não nos deve nada; de modo que a salvação não é um galardão ou recompensa, mas simplesmente graça. Ora, pode-se perguntar: como o homem recebe a salvação que lhe é oferecida pelas mãos divinas? Eis a minha reposta: pela instrumentalidade da fé. Daí o apóstolo concluir que aqui nada é propriamente nosso. Da parte de Deus é graça somente, e nada trazemos senão a fé, a qual nos despe de todo louvor, então segue-se que a salvação não procede de nós.

Não seria, pois, aconselhável manter silencio acerca do livre-arbítrio, das boas intenções, das preparações inventadas e dos méritos? Nenhum desses deixa de reivindicar a participação no louvor da salvação do homem; de modo que o louvor devido à graça, no dizer de Paulo, não seria integral. Quando, por parte do homem, é posto exclusivamente na fé como única fonte de se receber a salvação, então o homem rejeita todos os demais meios nos quais o ser humano costuma confiar. A fé, pois, conduz a Deus um homem vazio, para que o mesmo seja plenificado com as bênçãos de Cristo. E assim o apóstolo adiciona: não vem de vós; para que, nada reivindicando para si mesmos, reconheçam unicamente a Deus como o Autor de sua salvação.

Em vez do que havia dito, que a salvação deles é de graça, Paulo agora afirma que ela é o dom de Deus. Em vez do que havia dito, “não vem de vós”, ele agora diz: não [vem] de obras. Daí descobrimos que o apóstolo não deixa ao homem absolutamente nada em sua busca da salvação. Pois nessas frases ele envolve a substância de seu longo argumento nas Epístolas aos Romanos e aos Gálatas, ou seja: que a justiça que recebemos procede exclusivamente da misericórdia de Deus, a qual nos é oferecida em Cristo através do evangelho, e a qual é recebida única e exclusivamente por meio da fé, sem a participação do mérito procedente das obras, “para que ninguém se glorie”.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

“MAS DEUS, SENDO RICO EM MISERICÓRDIA”


“MAS DEUS, SENDO RICO EM MISERICÓRDIA”

“Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Ef 2-4-6).

Não há outra vida na alma senão aquela que nos é comunicada por Cristo; de modo que só começamos a viver quando somos enxertados nele e passamos a desfrutar vida comum com ele. “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, nos deu vida juntamente com Cristo”.

Sobre esta base o apóstolo Paulo louva a misericórdia divina compreendida por suas riquezas, as quais haviam sido derramadas liberal e excelentemente. Embora aqui ele atribua toda a nossa salvação a misericórdia divina, um pouco depois a situa mais precisamente no beneplácito divino, ao adicionar que tal coisa foi feita em virtude do imensurável amor de Deus. Paulo jamais se satisfaz em proclamar as riquezas da graça [pela graça sois salvos], e consequentemente enfatiza a mesma coisa com variados termos, visando a que tudo em nossa salvação seja atribuído a Deus.

O que Paulo declara da ressurreição e do assentar-se no céu não é ainda contemplado com os olhos. Contudo, como se aquelas bênçãos já se encontrassem em nossa posse, ele conclama que elas nos foram conferidas para que pudéssemos declarar a mudança em nossa condição, aos sermos conduzidos de Adão a Cristo. É como se ele quisesse dizer que fomos transferidos do mais profundo inferno ao próprio céu. Certamente que, embora, com respeito a nós mesmos, nossa salvação esteja ainda oculta na esperança, todavia em Cristo já possuímos a bem-aventurada imortalidade e glória. “Juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus”.

Deus nos abençoe!

João Calvino ( (1509-1564).

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quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

“POR NATUREZA, FILHOS DA IRA”


“POR NATUREZA, FILHOS DA IRA”

“Entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Ef 2.3).

O apóstolo Paulo declara a todos os homens, sem exceção, tanto judeus quanto gentios [ver Gl 2], como sendo - por natureza, ou seja: desde sua própria origem e desde o ventre materno - culpados até que se veem livres em Cristo. De modo que fora de Cristo não há justiça alguma, nem salvação e, em suma, nem mérito. Pela expressão “filhos da ira” compreende-se simplesmente os que são perdidos e merecem a morte eterna. “Ira” significa o juízo divino; de modo que “filhos da ira” significa os que estão condenados diante de Deus. 

Eis aqui uma passagem notável contra todos os que negam o pecado original. O que reside inerentemente em todos é certamente original; mas Paulo ensina que somos todos inerentemente passíveis de condenação. Portanto, o pecado habita em nós, visto que Deus não condena o inocente. Os que encobrem a verdade, com interpretação falsa, dizem que o pecado se propagou, a partir de Adão, a toda a raça humana, não por derivação, mas por imitação. Mas Paulo afirma que nascemos com o pecado. É contra o pecado que a ira de Deus se dirige, e não contra pessoas inocentes. Nem é de admirar que a depravação que nos é congênita, herdada de nossos pais, seja considerada como pecado diante de Deus, pois enquanto a semente está ainda oculta, ele a percebe e a condena.

Uma pergunta, porém, surge aqui: visto que Deus é o Autor da natureza, como é possível que não seja ele responsável, se somos inerentemente perdidos? Respondo que a natureza é dupla: a primeira foi criada por Deus; a segunda é a corrupção da primeira. A condenação, pois, de que Paulo fala não procede de Deus, e, sim, de uma natureza depravada. Pois agora não nascemos tais como Adão fora inicialmente criado, senão que somos a semente adulterada do homem degenerado e pecaminoso.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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terça-feira, 23 de janeiro de 2024

“SEGUNDO O PRÍNCIPE DA POTESTADE DO AR”


“SEGUNDO O PRÍNCIPE DA POTESTADE DO AR”

“Nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência” (Ef 2.2).

O apóstolo Paulo avança mais e explica que a causa da nossa corrupção deve ser encontrada no domínio que o diabo exerce sobre nós. Não se pode pronunciar uma condenação mais severa sobre a humanidade! O que ele nos deixa, quando declara que somos escravos de Satanás e submissos à sua vontade, enquanto nossas vidas se mantêm excluídas do reino de Cristo? Nossa condição, portanto, ainda que muitos vivam satisfeitos com ela (ou, pelo menos, pouco desprazerosos), deve, naturalmente, causar-nos horror. Onde, pois, está o livre-arbítrio, o governo da razão, a virtude moral, acerca dos quais muitos defendem? O que encontrarão tão puro ou santo sob a tirania do diabo? Astutamente, porém, se fazem em extremo cuidadosos ao abominarem esta doutrina como sendo a pior heresia de Paulo. Digo, porém, que não há nessas palavras nada obscuro, e que todos os que vivem segundo o curso do mundo, ou seja, segundo as inclinações da carne, batalham sob o comando de Satanás.

Como os filhos de Deus possuem uma Cabeça, assim também os ímpios; pois cada grupo forma um corpo. Portanto, Paulo atribui à primeira o domínio sobre todo o mal, assim como a segunda tipifica a plenitude da impiedade. Não há nesta passagem a defesa de dois princípios, como se Satanás pudesse realizar algo contra a vontade de Deus. Paulo não lhe concede o supremo governo, o qual pertence exclusivamente à vontade de Deus, a não ser que lhe atribui aquela tirania cujo exercício procede da permissão divina. O que é Satanás senão o verdugo de Deus para punir a ingratidão humana? Isso se encontra implícito na linguagem de Paulo, porquanto afirma que ele é poderoso somente em relação aos incrédulos, e assim isenta os filhos de Deus de seu poder destruidor. Se tal coisa procede, então presume-se que Satanás nada pode fazer senão aquilo que lho permite a vontade de um superior, e que ele não é autônomo.

Não obstante, ao mesmo tempo deduzimos que os ímpios não têm justificativa alguma de que são obrigados por Satanás a cometerem todos os seus crimes. Como concluir que se encontram sujeitos à tirania do diabo, senão pelo fato de serem rebeldes contra Deus? Se ninguém mais é escravo de Satanás senão aqueles que quebram o jugo divino e que se recusam a devotar obediência a Deus, então que se considerem responsáveis por preferirem um senhor tão cruel.

Pela cláusula, filhos da desobediência, o apostolo quer dizer, de acordo com o costume hebreu, os obstinados. O incrédulo vive associado com a desobediência; de modo que ela é a fonte e mãe de todos os obstinados.

Deus nos abençoe.

João Calvino (1509-1564).

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quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

“O DEUS DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO”


“O DEUS DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO”

“Não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele” (Ef 1.16,17).

Para o apóstolo Paulo apresentar sua ação de graças, como era seu costume, ele adiciona uma oração, a fim de incitar os efésios a um progresso espiritual mais elevado; pois nada é mais arriscado do que fartar-se de bênçãos espirituais. Por mais que nossas virtudes sejam fortes, teremos sempre e cada vez mais que progredir no conhecimento de Deus.

O que, porém, Paulo deseja para esses irmãos? O espírito de sabedoria e a iluminação dos olhos de seu entendimento. Eles não haviam ainda tomado posse de tal bênção? Sim. Ao mesmo tempo, porém, necessitavam de crescer, para que, uma vez revestidos de uma medida mais rica do Espírito, e sendo mais e mais iluminados, pudessem possuir mais livre e abundantemente o que já possuíam. O conhecimento dos santos nunca é suficientemente puro, senão que alguns problemas turvam seus olhos, e a obscuridade os impede a que vejam com clareza.

Diz Paulo: o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois o Filho de Deus se fez homem, de tal maneira, que ele fez Deus comum conosco. Como ele mesmo testificou: “Subo para meu Deus e vosso Deus” (Jo 20.17). E a razão pela qual ele é o nosso Deus, é porque ele é o Deus de Cristo, cujos membros somos nós. Tenhamos, pois, em mente que isso pertence à sua natureza humana de modo que sua sujeição não detrai nada de sua eterna deidade.

Paulo denomina Deus de o Pai da glória. Esse título emerge do anterior; pois a gloriosa paternidade de Deus é demonstrada em seu Filho sujeitar-se à nossa condição, para que, através do Filho, ele pudesse ser nosso Deus. “O Pai da glória” é uma expressão idiomática hebraica bem conhecida, equivalente a “o Pai glorioso”. Ele é o glorioso Pai de Cristo.

“O Espírito de sabedoria e de revelação”. Equivale a graça que o Senhor derramou sobre nós através de seu Espírito. Observemos, porém, que os dons do Espírito não são os dotes da natureza. Enquanto o Senhor não os abrir, os olhos de nosso coração são cegos. Enquanto não formos instruídos pelo Espírito, nosso bendito Mestre, tudo o que conhecemos não passa de futilidade e ignorância. Enquanto o Espírito de Deus não descortinar diante de nós por meio de uma revelação secreta, o conhecimento de nossa divina vocação não poderá ir além da compreensão de nossas mentes naturais.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

“SELADOS COM O SANTO ESPÍRITO DA PROMESSA”


“SELADOS COM O SANTO ESPÍRITO DA PROMESSA”

“Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa” (Ef 1.13).

Temos neste versículo uma prova da exatidão que Paulo atribuía ao evangelho. E por meio de qual patrocinador seria ele melhor garantido do que pelo Espírito Santo? É como se o apóstolo dissesse: “Havendo chamado o evangelho de Palavra da verdade, não o demonstrarei pela autoridade humana; pois tendes o próprio Autor, o Espírito de Deus, que sela a veracidade dele em vossos corações”. Essa excelente comparação é extraída dos selos, por meio dos quais a dúvida é afastada de entre os homens. Os selos imprimem autenticidade tanto aos alvarás como aos testamentos. Além disso, o selo era especialmente usado nas epístolas, para identificar o escritor. Em suma, um selo distingue o que é genuíno e indubitável do que é inautêntico e fraudulento. Tal ofício Paulo atribui ao Espírito Santo, não só aqui, mas também no capítulo 4.30 e em 2 Coríntios 1.22. Nossas mentes jamais se fazem suficientemente firmes, de modo que a verdade prevaleça conosco contra todas as tentações de Satanás, enquanto o Espírito Santo não nos confirme nela. A genuína convicção que os crentes têm da Palavra de Deus, acerca de sua própria salvação e de toda a religião, não emana das percepções da carne, ou de argumentos humanos e filosóficos, e, sim, da selagem do Espírito, o que faz suas consciências mais seguras e todas as dúvidas removidas. O fundamento da fé seria quebradiço e instável, se porventura ela repousasse na sabedoria humana; portanto, visto que a pregação é o instrumento da fé, por isso o Espírito Santo torna a pregação eficaz.

Mas aqui, o apóstolo aparece sujeitar à fé a selagem do Espírito. Se esse é o caso, então a fé precede o ato de selar. Minha resposta consiste em que a ação do Espírito na fé é dupla, correspondendo às duas partes principais das quais a fé consiste. Ela ilumina o intelecto e também confirma o pensamento. O princípio da fé é o conhecimento; sua consolidação é aquela convicção firme e estável, a qual não admite a oposição da dúvida. Cada caso, como já disse, é obra do Espírito. Não admira, pois, que Paulo declare que os efésios não só receberam, pela fé, a verdade do evangelho, mas também foram confirmados nela através do selo do Espírito Santo.

O apóstolo Paulo denomina de Espírito da promessa, a partir de seu efeito. Pois é ele que faz com que a promessa de salvação não nos seja feita em vão. Porque, assim como Deus promete em sua Palavra que nos será por Pai, também por meio de seu Espírito ele nos comunica a evidência de sua adoção.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“A PALAVRA DA VERDADE”


“A PALAVRA DA VERDADE”

“Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa” (Ef 1.13).

O apóstolo Paulo aplica ao evangelho duas qualificações: “a palavra da verdade” e o instrumento da salvação dos efésios. Ambas merecem nossa cuidadosa atenção, porque, visto que nada é mais solicitamente intentado por Satanás do que impregnar nossas mentes, ou com dúvidas, ou com menosprezo pelo evangelho. Paulo nos mune de duas defesas por meio das quais podemos repelir ambas as tentações. Portanto, é preciso que demos este testemunho contra todas as dúvidas de que o evangelho não é apenas certa verdade que não pode enganar, senão que é chamado, a palavra da verdade; de modo que, estritamente falando, não existe nenhuma verdade fora dele. Se porventura nos sentirmos sempre tentados a menosprezar ou sentir aversão pelo evangelho, lembremo-nos de que o seu poder e eficácia estão no fato de que é por meio dele que vem a salvação; assim como em Romanos 1.16, Paulo ensina que o evangelho “é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”. Aqui, porém, ele expressa muito mais, pois declara que os efésios, tendo sido feito participantes da salvação, perceberam isso através da experiência. Infelizes são aqueles que se cansam, como o mundo geralmente faz, perambulando por muitos caminhos tortuosos, negligenciando o evangelho e se deleitando com imaginações errantes; aprendendo muito sem jamais chegar ao conhecimento da verdade ou jamais descobrindo a vida! Felizes, porém, são aqueles que abraçam o evangelho e firmemente permanecem nele! Porque ele - o evangelho -, fora de qualquer dúvida, é a verdade, e a vida.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

“TORNAR A CONGREGAR EM CRISTO TODAS AS COISAS”


“TORNAR A CONGREGAR EM CRISTO TODAS AS COISAS”

“De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra” (Ef 1.10).

O apóstolo Paulo desejava ensinar que fora de Cristo todas as coisas estavam em desordem, mas que, por meio de dele, elas foram reconduzidas à ordem. E, de fato, fora de Cristo, o que podemos enxergar no mundo senão meras ruínas? Pelo pecado estamos alienados de Deus; e o que fazer se somos forasteiros e alquebrados? A condição natural das criaturas as leva a afastar-se de Deus. O restabelecer, que nos lembra a ordem regular, nos diz Paulo, foi feito em Cristo. Moldados em um corpo, somos unidos a Deus e mutuamente ligados uns aos outros. Sem Cristo, porém, o mundo todo se encontra como era, ou seja, um caos disforme e em tremenda confusão. Só ele nos converge em verdadeira unidade.

Mas, por que Paulo inclui seres celestiais nesta avaliação? Os anjos jamais estiveram separados de Deus, nem mesmo dispersos. Há quem ofereça a seguinte explicação: Diz-se que os anjos têm de viver juntos porque os homens que se unem a eles são unidos igualmente a Deus e alcançam a bênção comum juntamente com eles nesta abençoada unidade. Assim como falamos de uma construção reparada, muitas partes da mesma estavam em ruínas ou caindo, ainda que algumas partes permaneciam inteiras. Isso é verdade. Não há, porém, razão alguma para não dizermos que os anjos também foram mantidos juntos, não reunidos de uma dispersão, senão que antes eles estavam unidos a Deus perfeita e completamente, e então puderam conservar esse estado para sempre. Porquanto, que conformidade existe entre a criatura e o Criador sem a interposição do Mediador? Pelo fato de serem criaturas, eles estariam sujeitos a mudança e a queda, e não abençoados eternamente, e nem tampouco poderiam dispensar os benefícios de Cristo. Quem, pois, negaria que tanto os anjos como os homens foram restaurados a uma ordem imutável pela graça de Cristo? Os homens se perderam; os anjos, porém, não ficaram fora de perigo. Por meio da união de ambos em seu próprio Corpo, Cristo os uniu a Deus o Pai, para que pudesse estabelecer uma autêntica harmonia, tanto no céu como na terra.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

“EM TODA A SABEDORIA E PRUDÊNCIA”


“EM TODA A SABEDORIA E PRUDÊNCIA”

“Que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra” (Ef 1.8-10)..

O apóstolo Paulo agora traz a lume a causa formal, ou seja: a pregação do evangelho, por meio da qual a bondade de Deus flui para nós. Porque, por meio da fé, Cristo nos é comunicado, através de quem chegamos a Deus, e através de quem usufruímos os benefícios da adoção. Ele dá ao evangelho os magnificentes títulos de sabedoria e prudência, a fim de que os efésios pudessem desprezar todas e quaisquer doutrinas contrárias. Os falsos apóstolos cultivavam a pretensão de ensinar algo ainda mais sublime dos que os rudimentos que Paulo transmitia. E o diabo, a fim de solapar nossa fé, tudo fazia para desacreditar o evangelho até onde lhe fosse possível. Paulo, ao contrário, solidifica a autoridade do evangelho, para que os crentes possam descansar nele com segurança. “Toda a sabedoria” significa a plena ou perfeita sabedoria.

Visto que a novidade assustara alguns, o apóstolo trata com o erro por bastante tempo, e chama essa novidade de o segredo da vontade divina, e, no entanto, um segredo que a Deus aprouve agora revelar. Como anteriormente atribuíra a eleição deles ao beneplácito de Deus, assim também agora faz com sua vocação, para que os efésios pudessem reconhecer que Cristo tornou-lhes conhecido e lhes fez conhecido o evangelho que lhes fora anunciado, não porque merecessem alguma coisa, mas porque a Deus aprouve fazê-lo.

Tudo fora sábia e adequadamente planejado. O que pode ser mais justo do que seus propósitos, os quais estão ocultos dos homens, e que são conhecidos somente de Deus, enquanto ele queira guardá-los só para si mesmo? Ou, de outra forma, estaria em sua própria vontade e poder predeterminar o tempo em que esses propósitos seriam conhecidos aos homens? Portanto, o apóstolo Paulo está dizendo que o decreto que se encontrava na mente de Deus, de adotar os gentios, esteve oculto até agora; todavia, de maneira tal, que ele o mantivera em seu próprio poder até ao tempo da revelação. No caso de alguém perguntar por que um tempo e não outro foi selecionado, o apóstolo antecipa tal curiosidade, denominando o que fora designado por Deus de “na plenitude dos tempos” - o tempo pleno e apropriado, como temos em Gálatas 4.4. Que a presunção humana se reprima, e, ao julgar a sucessão dos eventos, que ela se curve ante a providência de Deus. A palavra “dispensação” aponta na mesma direção, porquanto a perfeita administração de todas as coisas depende do juízo divino.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

“EM QUEM TEMOS A REDENÇÃO, PELO SEU SANGUE”


“EM QUEM TEMOS A REDENÇÃO, PELO SEU SANGUE”

“Em quem temos a redenção, pelo seu sangue, o perdão dos pecados, segundo as riquezas de sua graça” (Ef 1.7).

Neste versículo o apóstolo Paulo se refere ainda à causa material da nossa redenção, pois explica como fomos reconciliados com Deus através de Cristo, como, por meio de sua morte, ele apaziguou o Pai por nós. Portanto, é fundamental que voltemos sempre nossa mente para o sangue de Cristo, se quisermos que nele encontremos graça. E diz ainda que, pelo sangue de Cristo, obtemos a redenção, a qual ele imediatamente chama de perdão dos pecados. Paulo está querendo dizer com isso que somos redimidos porque os nossos pecados não nos são mais imputados. Daqui emana a justiça gratuita pela qual somos aceitos por Deus, bem como somos libertados da escravidão do mal e da morte. Precisamos observar cuidadosamente a oposição que define a maneira da nossa redenção; porque, quanto mais permanecemos sujeitos ao juízo de Deus, mais presos ficamos em miseráveis cadeias. Portanto, livrar-se da culpa é, de fato, uma liberdade inestimável.

O apóstolo volta à causa eficiente - segundo as riquezas de sua graça: Cristo deu-se a si mesmo a fim de ser nosso Redentor, visto que Deus fora riquíssimo em bondade ativa. E Paulo emprega a palavra “riquezas”, aqui, bem como a palavra “superabundar”, para magnificar essa bondade, de modo que Deus passa a plenificar a mente dos homens com suas maravilhas. Que a mente dos homens esteja imersa na riqueza da graça que é aqui enaltecida! O apóstolo jamais deixou espaço para as satisfações inventadas pelos homens, por meio das quais o mundo acredita poder redimir-se, como se o sangue de Cristo fosse secar-se sem algum auxílio subsidiário.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário.

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

“BENDITO SEJA O DEUS E PAI DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO”


“BENDITO SEJA O DEUS E PAI DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO”

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef 1.3).

Aqueles que reconhecem em si mesmos uma efusão tal da bondade de Deus, tão plena e absolutamente perfeita, e que se exercitam nela com fervorosa meditação, jamais abraçarão novas doutrinas, as quais obscurecem a própria graça de Deus que sentem tão poderosamente em seu interior. O propósito do apóstolo Paulo, ao afirmar a imensurabilidade da graça divina para com os efésios, era prepará-los a fim de que não permitissem que sua fé fosse abalada pelos falsos apóstolos, como se seu chamamento fosse algo duvidoso, ou como se sua salvação devesse ser vista por outro prisma. Ele lhes assegura, ao mesmo tempo, que a plena certeza da salvação consiste no fato de que, através do evangelho, Deus revela, em Cristo, seu amor para conosco. A fim de confirmar, porém, a questão mais plenamente, ele chama sua atenção para a causa primeira, para a fonte, ou seja, a eterna eleição divina, por meio da qual, antes que houvéssemos nascido, fomos adotados como filhos. E isso para que soubessem eles [e nós!] que já estavam salvos, não por meio de qualquer ocorrência fortuita ou prevista, mas por meio do eterno e imutável decreto de Deus.

O verbo abençoar é aqui usado em mais de um sentido, tanto em se referindo a Deus como em se referindo aos homens. Encontro na Escritura uma quádrupla significação para ele. Abençoamos a Deus quando o louvamos, declarando sua munificência. Diz-se, porém que Deus nos abençoa, quando ele torna nossas atividades bem sucedidas, e em sua benevolência nos concede felicidade e prosperidade; e a razão é que somos abençoados unicamente em seu beneplácito. Notemos como Paulo expressa o grande poder que habita em toda a Palavra de Deus para a Igreja e para cada crente individualmente. Os homens abençoam uns aos outros através da oração. A bênção sacerdotal é mais do que uma oração, visto ser ela um testemunho e garantia da bênção divina; porquanto os sacerdotes receberam a incumbência de abençoar no Nome do Senhor. Portanto, Paulo, aqui, abençoa [bendiz] a Deus como uma confissão de louvor, porque Deus nos abençoou, ou seja, nos enriqueceu “com toda sorte de bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”, expressando a superioridade da graça que nos é concedida através de Cristo; que nossa felicidade não está neste mundo, e, sim, no céu e na vida eterna. A religião cristã, sem dúvida, como vemos em 1Tm 4.8, contém promessas não só referentes à vida futura, mas também com referência à vida presente, seu alvo, porém, é a felicidade espiritual e eterna no reino de Cristo.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

“E NOS PREDESTINOU PARA FILHOS DE ADOÇÃO”

“E NOS PREDESTINOU PARA FILHOS DE ADOÇÃO”

“E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado” (Ef 1.5,6).

O que vem a seguir salienta ainda mais a sublimidade da graça divina. Já mencionamos a razão por que o apóstolo inculcou tão energicamente nos efésios Cristo e a adoção gratuita nele, bem como a eterna eleição que a precedeu. Como a misericórdia de Deus, porém, em nenhum outro lugar é expressa de forma mais sublime, esta passagem merece nossa especial atenção. Nesta cláusula são mencionadas três causas de nossa salvação, e uma quarta é acrescentada logo a seguir. A causa eficiente é o beneplácito da vontade de Deus; a causa material é Cristo; e a causa final é o louvor e glória de sua graça. Vejamos agora o que ele diz acerca de cada uma.

À primeira pertence todo este contexto: Deus nos predestinou nele mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para filhos de adoção, e nos fez aceitos por meio de sua graça. No verbo predestinar devemos novamente atentar para a ordem. Nem mesmo existíamos, portanto não existia nenhum mérito propriamente nosso. Consequentemente, a causa de nossa salvação não procedeu de nós mesmos, e, sim, tão somente de Deus. Paulo, todavia, ainda não satisfeito com essas afirmações, acrescenta: para si mesmo. Com isso ele está dizendo que Deus não buscou uma causa fora de si próprio, senão que nos predestinou por que assim o quis.

O que se segue, porém, é ainda mais claro: segundo o beneplácito de sua vontade. A palavra “vontade” seria suficiente, pois o apóstolo estava acostumado a contrastá-la com todas as causas externas pelas quais o homem imagina que a mente de Deus é possível de receber influência. Todavia, para que não permaneça qualquer ambiguidade, ele usa o contraste “beneplácito”, o que expressamente exclui todo e qualquer mérito. Portanto, ao adotar-nos, o Senhor não levou em conta o que somos, e não nos reconciliou consigo mesmo com base em alguma dignidade que porventura tivéssemos. Seu único motivo é o beneplácito por meio do qual ele nos predestinou.

Finalmente, a fim de que nada mais ficasse faltando, ele acrescenta: “nos fez agradáveis a si”. Com isso ele nos afiança que Deus nos envolve graciosamente em seu amor e favor, não com base em retribuição meritória, senão que ele nos elegeu quando nem ainda tínhamos nascido, quando nada o motivara senão ele próprio.

causa material, tanto da eleição eterna quanto do amor que nos é agora revelado, é Cristo, a quem ele chama o Amado, querendo dizer-nos que por meio dele o amor de Deus é sobre nós derramado. Portanto, ele é o bem-amado para reconciliar-nos. O propósito mais elevado e último é acrescentado imediatamente, a saber: o glorioso louvor de uma graça infinitamente rica. Toda a glória de nossa salvação deve ser atribuída única e exclusivamente a Deus.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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terça-feira, 2 de janeiro de 2024

“PARA SERMOS SANTOS E IRREPREENSÍVEIS”


“PARA SERMOS SANTOS E IRREPREENSÍVEIS”

“Assim como nos elegeu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor” (Ef 1.4).

O apóstolo Paulo indica o propósito imediato da eleição, não, porém, o principal. Pois não existe qualquer absurdo em supor-se que uma coisa possua dois objetivos. O propósito em realizar uma construção é para que haja uma casa. Esse é o alvo imediato. Mas a conveniência de se habitar nela é o alvo último. Era necessário mencionar-se isso de passagem; pois Paulo de imediato menciona outro alvo - a glória de Deus. Todavia, não há nenhuma contradição aqui. A glória de Deus é a finalidade mais elevada, à qual a nossa santificação está subordinada.

Desse fato inferimos que a santidade, a irrepreensibilidade, e assim toda e qualquer virtude que porventura exista no homem, são frutos da eleição. E assim uma vez mais Paulo expressamente põe de lado toda e qualquer consideração de mérito [humano]. Se Deus houvera previsto em nós tudo o que porventura fosse digno de eleição, então se diria precisamente o contrário. Pois a intenção de Paulo é que toda a nossa santidade e irrepreensibilidade de vida emanam da eleição divina. Como explicar, pois, que alguns homens são piedosos e vivem no temor do Senhor, enquanto que outros se entregam sem reservas a toda espécie de perversidade? Se Paulo merece credibilidade, a única razão é que os últimos conservam sua disposição natural, enquanto que os primeiros foram eleitos para a santidade. Certamente que a causa não segue o efeito, e, portanto, a eleição não depende da justiça que vem das obras, a qual Paulo declara aqui ser a causa.

“Perante ele; e em amor”. Santidade aos olhos de Deus, tem a ver com consciência pura; pois Deus não é enganado, à semelhança dos homens, pela pretensão externa; ele, porém, olha para a fé, ou seja, para a veracidade do coração. Se você atribuir a Deus a palavra “amor”, então significa que a única razão pela qual ele nos elegeu foi o seu amor pela humanidade. Prefiro, porém, considerar o amor à luz da última parte do versículo, ou seja: que a perfeição dos crentes consiste no amor; não que Deus requeira somente amor, mas que ele é uma evidência do temor de Deus e da obediência a toda a lei.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“ASSIM COMO NOS ELEGEU NELE”


“ASSIM COMO NOS ELEGEU, NELE”

“Assim como nos elegeu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor” (Ef 1.4).

Aqui, o apóstolo Paulo declara que a eterna eleição divina é o fundamento e causa primeira, tanto do nosso chamamento como de todos os benefícios que de Deus recebemos. Se se nos pede a razão por que Deus nos chamou a participar do evangelho, por que diariamente ele nos concede bênçãos em grande profusão, por que ele nos abre os portões celestiais, teremos sempre que retroceder a este princípio, ou seja: que Deus nos elegeu antes que o mundo viesse à existência. O próprio tempo da eleição revela que ela é gratuita; pois, o que poderíamos merecer, ou em que consistiria o nosso mérito, antes que o mundo fosse criado? Pois quão pueril é o raciocínio sofístico, o qual afirma que não fomos eleitos porque já éramos dignos, e, sim, porque Deus previra que seríamos dignos. Todos nós estamos perdidos em Adão; portanto, Deus não poderia ter-nos salvo de perecermos por meio de sua própria eleição, se não havia nada para ser previsto. O mesmo argumento é usado em Romanos 9.11, onde, ao falar de Jacó e Esaú, diz Paulo: “E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal”. Embora, porém, eles ainda não tivessem agido, algum sofista poderia replicar: “Deus previra o que eles poderiam fazer”. Tal objeção não possui força alguma à luz da natureza corrupta do homem, em quem nada pode ser visto senão matérias para destruição.

Ao acrescentar: em Cristo, estamos diante da segunda confirmação da soberania da eleição. Porque, se somos eleitos em Cristo, tal fato se encontra fora de nós próprios. Isso não tem por base nosso merecimento, e, sim, porque nosso Pai celestial nos enxertou, através da bênção da adoção, no corpo de Cristo. Em suma, o nome de Cristo inclui todo mérito, bem como tudo quanto os homens possuem de si próprios; pois quando o apóstolo diz que somos eleitos em Cristo, segue-se que em nós mesmos não existe dignidade alguma.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

“ELE VOS DEU VIDA, ESTANDO VÓS MORTOS”

“ELE VOS DEU VIDA, ESTANDO VÓS MORTOS” 

"Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef  2.1).

Com o fim de aplicar com maior eficácia aos efésios, a declaração geral da graça, o apóstolo Paulo lhes lembra sua condição anterior. Esta aplicação contém duas partes: “Vós, uma vez, estivestes perdidos; agora, porém Deus, mediante sua graça, vos resgatou da destruição”. Mas ao envidar esforços para salientar cada uma dessas partes, o apóstolo interrompe seu argumento por meio de hipérbato. Existe certa dificuldade na linguagem, mas o significado é claro. Temos apenas que nos reportar a ambas as partas. Quanto à primeira, vemos que Paulo diz que os efésios estiveram mortos; e expõe, ao mesmo tempo, a causa da morte, a saber: os pecados. Sua intenção não é apenas dizer que viveram sob o risco de morte; senão que declara que ela era uma morte real e presente, pela qual foram subjugados. Como a morte espiritual não é outra coisa senão o estado de alienação em que a alma subsiste em relação a Deus, já nascemos todos mortos, bem como vivemos mortos até que nos tornamos participantes da vida de Cristo; daí o nosso Senhor também dizer: “Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a vos do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão” (J0 5.25).

Os hereges, ávidos em agarrar-se a cada oportunidade que tenham para enfraquecer a graça de Deus, afirmam que fora de Cristo estamos meio mortos. Entretanto, não foi a troco de nada que o próprio Senhor, e bem assim o apóstolo Paulo, nos excluíram completamente da vida enquanto permanecermos, em Adão, e declaram que a regeneração é a nova vida da alma, e que é por meio daquela que esta ressuscita dos mortos. Reconheço que algum gênero de vida permanece em nós durante o tempo em que somos estranhos em relação a Cristo; porquanto nem os sentidos, nem a vontade, nem as faculdades da alma foram extintos dos incrédulos. O que isso, porém, tem a ver com o reino de Deus? O que isso tem a ver com a vida bem-aventurada, quando tudo o que pensamos e desejamos é morte? Que seja indestrutível, pois, o seguinte pensamento: que a união de nossa alma com Deus é a genuína e única vida; e que fora de Cristo estamos completamente mortos, visto que o pecado, a causa da morte, reina em nós.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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