“QUE ANDEIS DE MODO DIGNO DA VOCAÇÃO”
“Rogo-vos,
pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que
fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade,
suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por
preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4.1-3).
O apóstolo Paulo discutira anteriormente a vocação; agora lhes recomenda que não se tornassem indignos de tão imensurável graça. Ao descer a detalhes, ele coloca a humildade em primeiro plano. A razão está no fato de que ele abordava a unidade; e a humildade é o primeiro passo para alcançá-la. Ela também produz mansidão, a qual nos faz pacientes. E ao sofrermos com nossos irmãos, conservamos a unidade que, de outra forma, seria quebrada mil vezes ao dia. Lembremo-nos, pois, que, ao cultivarmos a bondade fraternal, é essencial que comecemos com a humildade. De onde procede a insolência, a soberba e as injúrias lançadas contra os irmãos? De onde procedem as questiúnculas, os escárnios e as reprovações severas, a não ser do fato de cada um amar excessivamente a si próprio e de querer agradar em demasia a si próprio? Aquele que se desfaz da arrogância e cessa de agradar a si próprio se tornará manso e acessível.
Ao dizer: em amor, o apóstolo tem em mente o que
ele diz em outros textos, ou seja: que a verdadeira natureza do amor está na
paciência. Onde o amor governa e floresce, edificaremos muitíssimo uns aos
outros.
Além do mais, é
com boas razões que ele recomenda a paciência, a saber: para que a unidade do
Espírito possa seguir em frente. Inumeráveis ofensas surgem diariamente, as
quais podem aquecer as discórdias entre nós, particularmente em virtude de o
espírito humano digladiar impulsionado por sua natural impertinência. Há quem
considere a unidade do Espírito como
aquela unidade espiritual que o Espírito de Deus efetua em nós. É sem qualquer
sombra de dúvida que tão-somente ele [o Espírito] nos constrói com uma só
mente, e dessa forma nos faz um só. Minha interpretação da frase, porém, é mais
no sentido de harmonia de mente. Essa unidade, diz Paulo, é composta por o vínculo da paz; porquanto as
discórdias com frequência despertam o ódio e ressentimento. Devemos viver em
paz, caso desejemos que o espirito de bondade permaneça entre nós.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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