“PARA SERMOS SANTOS E IRREPREENSÍVEIS”
“Assim como nos elegeu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos
santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor” (Ef 1.4).
O apóstolo Paulo indica o propósito imediato da eleição,
não, porém, o principal. Pois não existe qualquer absurdo em supor-se que uma
coisa possua dois objetivos. O propósito em realizar uma construção é para que
haja uma casa. Esse é o alvo imediato. Mas a conveniência de se habitar nela é
o alvo último. Era necessário mencionar-se isso de passagem; pois Paulo de
imediato menciona outro alvo - a glória de Deus. Todavia, não há nenhuma
contradição aqui. A glória de Deus é a finalidade mais elevada, à qual a nossa
santificação está subordinada.
Desse fato inferimos que a santidade, a irrepreensibilidade, e assim toda e qualquer virtude que porventura exista no homem, são frutos da eleição. E assim uma vez mais Paulo expressamente põe de lado toda e qualquer consideração de mérito [humano]. Se Deus houvera previsto em nós tudo o que porventura fosse digno de eleição, então se diria precisamente o contrário. Pois a intenção de Paulo é que toda a nossa santidade e irrepreensibilidade de vida emanam da eleição divina. Como explicar, pois, que alguns homens são piedosos e vivem no temor do Senhor, enquanto que outros se entregam sem reservas a toda espécie de perversidade? Se Paulo merece credibilidade, a única razão é que os últimos conservam sua disposição natural, enquanto que os primeiros foram eleitos para a santidade. Certamente que a causa não segue o efeito, e, portanto, a eleição não depende da justiça que vem das obras, a qual Paulo declara aqui ser a causa.
“Perante ele; e em amor”. Santidade aos olhos de Deus, tem a ver com
consciência pura; pois Deus não é enganado, à semelhança dos homens, pela
pretensão externa; ele, porém, olha para a fé, ou seja, para a veracidade do
coração. Se você atribuir a Deus a palavra “amor”, então significa que a única
razão pela qual ele nos elegeu foi o seu amor pela humanidade. Prefiro, porém,
considerar o amor à luz da última parte do versículo, ou seja: que a perfeição
dos crentes consiste no amor; não que Deus requeira somente amor, mas que ele é
uma evidência do temor de Deus e da obediência a toda a lei.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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