“O DEUS DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO”
“Não cesso de
dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, para que o Deus
de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de
sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele” (Ef 1.16,17).
Para o
apóstolo Paulo apresentar sua ação de graças, como era seu costume, ele
adiciona uma oração, a fim de incitar os efésios a um progresso espiritual mais
elevado; pois nada é mais arriscado do que fartar-se de bênçãos espirituais. Por
mais que nossas virtudes sejam fortes, teremos sempre e cada vez mais que progredir no conhecimento de Deus.
O que, porém,
Paulo deseja para esses irmãos? O espírito de sabedoria e a iluminação dos
olhos de seu entendimento. Eles não haviam ainda tomado posse de tal bênção?
Sim. Ao mesmo tempo, porém, necessitavam de crescer, para que, uma vez
revestidos de uma medida mais rica do Espírito, e sendo mais e mais iluminados,
pudessem possuir mais livre e abundantemente o que já possuíam. O conhecimento
dos santos nunca é suficientemente puro, senão que alguns problemas turvam seus
olhos, e a obscuridade os impede a que vejam com clareza.
Diz Paulo: o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo.
Pois o Filho de Deus se fez homem, de tal maneira, que ele fez Deus comum
conosco. Como ele mesmo testificou: “Subo para meu Deus e vosso Deus” (Jo
20.17). E a razão pela qual ele é o nosso Deus, é porque ele é o Deus de
Cristo, cujos membros somos nós. Tenhamos, pois, em mente que isso pertence à
sua natureza humana de modo que sua sujeição não detrai nada de sua eterna
deidade.
Paulo denomina
Deus de o Pai da glória. Esse título
emerge do anterior; pois a gloriosa paternidade de Deus é demonstrada em seu
Filho sujeitar-se à nossa condição, para que, através do Filho, ele pudesse ser
nosso Deus. “O Pai da glória” é uma expressão idiomática hebraica bem
conhecida, equivalente a “o Pai glorioso”. Ele é o glorioso Pai de Cristo.
“O Espírito de sabedoria e de revelação”. Equivale a graça que o Senhor derramou sobre nós através de
seu Espírito. Observemos, porém, que os dons do Espírito não são os dotes da
natureza. Enquanto o Senhor não os abrir, os olhos de nosso coração são cegos. Enquanto
não formos instruídos pelo Espírito, nosso bendito Mestre, tudo o que conhecemos
não passa de futilidade e ignorância. Enquanto o Espírito de Deus não
descortinar diante de nós por meio de uma revelação secreta, o conhecimento de
nossa divina vocação não poderá ir além da compreensão de nossas mentes naturais.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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