“BENDITO SEJA O DEUS E PAI DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO”
“Bendito seja o
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com todas as
bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef 1.3).
Aqueles que reconhecem
em si mesmos uma efusão tal da bondade de Deus, tão plena e absolutamente
perfeita, e que se exercitam nela com fervorosa meditação, jamais abraçarão
novas doutrinas, as quais obscurecem a própria graça de Deus que sentem tão
poderosamente em seu interior. O propósito do apóstolo Paulo, ao afirmar a imensurabilidade
da graça divina para com os efésios, era prepará-los a fim de que não
permitissem que sua fé fosse abalada pelos falsos apóstolos, como se seu
chamamento fosse algo duvidoso, ou como se sua salvação devesse ser vista por
outro prisma. Ele lhes assegura, ao mesmo tempo, que a plena certeza da
salvação consiste no fato de que, através do evangelho, Deus revela, em Cristo,
seu amor para conosco. A fim de confirmar, porém, a questão mais plenamente,
ele chama sua atenção para a causa primeira, para a fonte, ou seja, a eterna
eleição divina, por meio da qual, antes que houvéssemos nascido, fomos adotados
como filhos. E isso para que soubessem eles [e nós!] que já estavam salvos, não
por meio de qualquer ocorrência fortuita ou prevista, mas por meio do eterno e
imutável decreto de Deus.
O verbo abençoar é aqui usado em mais de um
sentido, tanto em se referindo a Deus como em se referindo aos homens. Encontro
na Escritura uma quádrupla significação para ele. Abençoamos a Deus quando o
louvamos, declarando sua munificência. Diz-se, porém que Deus nos abençoa,
quando ele torna nossas atividades bem sucedidas, e em sua benevolência nos
concede felicidade e prosperidade; e a razão é que somos abençoados unicamente
em seu beneplácito. Notemos como Paulo expressa o grande poder que habita em
toda a Palavra de Deus para a Igreja e para cada crente individualmente. Os
homens abençoam uns aos outros através da oração. A bênção sacerdotal é mais do
que uma oração, visto ser ela um testemunho e garantia da bênção divina;
porquanto os sacerdotes receberam a incumbência de abençoar no Nome do Senhor.
Portanto, Paulo, aqui, abençoa [bendiz] a Deus como uma confissão de louvor,
porque Deus nos abençoou, ou seja, nos enriqueceu “com toda sorte de bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”,
expressando a superioridade da graça que nos é concedida através de Cristo; que
nossa felicidade não está neste mundo, e, sim, no céu e na vida eterna. A
religião cristã, sem dúvida, como vemos em 1Tm 4.8, contém promessas não só
referentes à vida futura, mas também com referência à vida presente, seu alvo,
porém, é a felicidade espiritual e eterna no reino de Cristo.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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