“E NOS PREDESTINOU PARA FILHOS DE ADOÇÃO”
“E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si
mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da sua
graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado” (Ef 1.5,6).
O que vem a seguir salienta ainda mais a sublimidade da graça divina. Já
mencionamos a razão por que o apóstolo inculcou tão energicamente nos efésios
Cristo e a adoção gratuita nele, bem como a eterna eleição que a precedeu. Como
a misericórdia de Deus, porém, em nenhum outro lugar é expressa de forma mais
sublime, esta passagem merece nossa especial atenção. Nesta cláusula são
mencionadas três causas de nossa salvação, e uma quarta é acrescentada logo a
seguir. A causa eficiente é o beneplácito da vontade de Deus;
a causa material é Cristo; e a causa final é
o louvor e glória de sua graça. Vejamos agora o que ele diz acerca de cada uma.
À primeira pertence todo este contexto: Deus nos predestinou nele mesmo,
segundo o beneplácito de sua vontade, para filhos de adoção, e nos fez aceitos por meio
de sua graça. No verbo predestinar devemos novamente atentar
para a ordem. Nem mesmo existíamos, portanto não existia nenhum mérito
propriamente nosso. Consequentemente, a causa de nossa salvação não procedeu de
nós mesmos, e, sim, tão somente de Deus. Paulo, todavia, ainda não satisfeito
com essas afirmações, acrescenta: para si mesmo. Com isso ele
está dizendo que Deus não buscou uma causa fora de si próprio, senão que nos
predestinou por que assim o quis.
O que se segue, porém, é ainda mais claro: segundo o beneplácito de sua vontade. A palavra “vontade” seria suficiente, pois o apóstolo estava acostumado a contrastá-la com todas as causas externas pelas quais o homem imagina que a mente de Deus é possível de receber influência. Todavia, para que não permaneça qualquer ambiguidade, ele usa o contraste “beneplácito”, o que expressamente exclui todo e qualquer mérito. Portanto, ao adotar-nos, o Senhor não levou em conta o que somos, e não nos reconciliou consigo mesmo com base em alguma dignidade que porventura tivéssemos. Seu único motivo é o beneplácito por meio do qual ele nos predestinou.
Finalmente, a fim de que nada mais ficasse faltando, ele acrescenta: “nos fez agradáveis a si”. Com isso ele nos afiança que Deus nos envolve graciosamente em seu amor e favor, não com base em retribuição meritória, senão que ele nos elegeu quando nem ainda tínhamos nascido, quando nada o motivara senão ele próprio.
A causa material, tanto da eleição eterna quanto do amor que
nos é agora revelado, é Cristo, a quem ele chama o Amado,
querendo dizer-nos que por meio dele o amor de Deus é sobre nós derramado.
Portanto, ele é o bem-amado para reconciliar-nos. O propósito mais elevado e
último é acrescentado imediatamente, a saber: o glorioso louvor de uma graça
infinitamente rica. Toda a glória de nossa
salvação deve ser atribuída única e exclusivamente a Deus.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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