“TORNAR A CONGREGAR EM CRISTO TODAS AS COISAS”
“De tornar a
congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos,
tanto as que estão nos céus como as que estão na terra” (Ef 1.10).
O apóstolo Paulo
desejava ensinar que fora de Cristo todas as coisas estavam em desordem, mas
que, por meio de dele, elas foram reconduzidas à ordem. E, de fato, fora de Cristo,
o que podemos enxergar no mundo senão meras ruínas? Pelo pecado estamos
alienados de Deus; e o que fazer se somos forasteiros e alquebrados? A condição
natural das criaturas as leva a afastar-se de Deus. O restabelecer, que nos
lembra a ordem regular, nos diz Paulo, foi feito em Cristo. Moldados em um
corpo, somos unidos a Deus e mutuamente ligados uns aos outros. Sem Cristo,
porém, o mundo todo se encontra como era, ou seja, um caos disforme e em tremenda
confusão. Só ele nos converge em verdadeira unidade.
Mas, por que
Paulo inclui seres celestiais nesta avaliação? Os anjos jamais estiveram
separados de Deus, nem mesmo dispersos. Há quem ofereça a seguinte explicação:
Diz-se que os anjos têm de viver juntos porque os homens que se unem a eles são
unidos igualmente a Deus e alcançam a bênção comum juntamente com eles nesta
abençoada unidade. Assim como falamos de uma construção reparada, muitas
partes da mesma estavam em ruínas ou caindo, ainda que algumas partes
permaneciam inteiras. Isso é verdade. Não há, porém, razão alguma para não
dizermos que os anjos também foram mantidos juntos, não reunidos de uma
dispersão, senão que antes eles estavam unidos a Deus perfeita e completamente,
e então puderam conservar esse estado para sempre. Porquanto, que conformidade existe
entre a criatura e o Criador sem a interposição do Mediador? Pelo fato de serem
criaturas, eles estariam sujeitos a mudança e a queda, e não abençoados
eternamente, e nem tampouco poderiam dispensar os benefícios de Cristo. Quem,
pois, negaria que tanto os anjos como os homens foram restaurados a uma ordem
imutável pela graça de Cristo? Os homens se perderam; os anjos, porém, não ficaram
fora de perigo. Por meio da união de ambos em seu próprio Corpo, Cristo os uniu
a Deus o Pai, para que pudesse estabelecer uma autêntica harmonia, tanto no céu
como na terra.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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