“NÃO TE ENVERGONHES DO TESTEMUNHO DE NOSSO SENHOR”
“Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor, nem do
seu encarcerado, que sou eu; pelo contrário, participa comigo dos sofrimentos,
a favor do evangelho, segundo o poder de Deus” (2Tm 1.8).
O apóstolo Paulo diz isso porque, pensava-se que confessar o evangelho
era uma grande desventura; por isso ele diz a Timóteo a não permitir que a ambição
ou o medo de infâmia obstruísse sua confiante pregação. Declara isso como uma
inferência do que esteve justamente afirmando. O homem que se ama com o poder
de Deus não se sentirá frustrado pelo tumulto do mundo, mas considerará uma
honra que os homens ímpios o cubram de vitupério. O evangelho é aqui denominado
com justiça, “o testemunho de nosso Senhor”, pois ainda que ele não
necessite de nosso auxílio, não obstante nos impõe o dever de dar testemunho a
seu respeito, bem como de sustentar sua glória. Essa é uma grande e especial
honra concedida por ele a todos nós, de tal modo que não há cristão que não se
considere uma testemunha de Cristo, mas é especialmente concedido aos pastores
e mestres, como Cristo mesmo disse a seus apóstolos: “Sereis minhas testemunhas”
[At 1.8]. Pois quanto mais o mundo demonstra seu ódio pelo ensino do evangelho,
mais coragem devem os pastores demonstrar em seus labores em confessá-lo
publicamente.
Ao acrescentar, “nem do seu encarcerado, que sou eu”,
o apóstolo admoesta Timóteo a não recusar ser seu companheiro numa causa comum.
Ao começarmos a nos esquivar da companhia daqueles que estão sofrendo
perseguição, nosso intuito é fazer que o evangelho fique isento de toda e
qualquer perseguição. Ainda que não faltassem pessoas perversas para dirigir a Timóteo
motejos e dizer: “Tu não vês o que tem acontecido a teu mestre? Por que, pois,
nos impões uma doutrina que vês ser desdenhada pelo mundo inteiro?” Não
obstante, ele deve ter se sentido feliz com essa admoestação. Paulo lhe diz: “Não
precisas sentir-se envergonhado a meu respeito, pois de nada tenho que me
envergonhar, porque sou o prisioneiro de Cristo; não estou em cadeias por algum
crime ou malfeito, e, sim, por seu nome”. Ele diz a Timóteo como fazer o que
lhe pede, ou seja, preparando-se para sofrer as aflições que estão relacionadas
com o evangelho, pois esquivar-se da cruz ou tentar evitá-la significa sempre
envergonhar-se do evangelho. E assim Paulo tem duas razões para encorajar
Timóteo a ser ousado em sua confissão, e ao falar sobre levar a cruz, que ele
não o fizesse em vão.
E acrescenta “segundo o poder de Deus”, porque imediatamente
sucumbimos caso ele não nos sustentasse. A frase contém tanto de admoestação
quando de consolação. A admoestação é para volvermos nossos olhos de nossas
presentes fraquezas e, confiando no socorro divino, aventurarmo-nos e
esforçarmo-nos em relação às coisas que se encontram além de nossas próprias
forças; o conforto é para que, caso soframos algo por conta do evangelho, Deus
virá e nos livrará e em seu poder nos dará vitória.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
Nenhum comentário:
Postar um comentário