"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



terça-feira, 23 de julho de 2024

“OS OLHOS DO SENHOR ESTÃO SOBRE OS QUE O TEMEM”


OS OLHOS DO SENHOR ESTÃO SOBRE OS QUE O TEMEM

Eis que os olhos do SENHOR estão sobre os que o temem, sobre aqueles que esperam em sua misericórdia, para livrar suas almas da morte e para conservar-lhes a vida no tempo da fome” (Sl 33.18,19).

Havendo demonstrado que, o que os homens consideram sua melhor defesa amiúde não lhes traz nenhum proveito, ou, melhor, é totalmente sem efeito quando dependem de tais coisas, o salmista agora mostra, em contrapartida, que os crentes, embora não sejam revestidos de grande poder nem possuam grande riqueza, não obstante são única e suficientemente protegidos pelo favor divino e se sentirão seguros para sempre. Sua intenção é bem ilustrada com esta comparação, a saber, que os reis e gigantes não recebem nenhum auxílio de sua força embora pareça invencível, enquanto que Deus sustenta a vida dos santos na fome e na morte. Consequentemente entendemos melhor por que o profeta põe abaixo toda a força do mundo; seguramente não para que os homens fiquem prostrados ou se veem tão quebrantados que se entreguem ao desespero, mas porque, desfazendo-se de seu orgulho, firmem bem seus pensamentos em Deus somente e se persuadam de que sua vida depende tão-só da proteção divina. Além do mais, ao dizer que os olhos de Deus estão postos sobre os que o temem e os salva, ele expressa mais do que se houvera dito que sua mão e poder foram suficientes para preservá-los. E possível que uma dúvida entre sorrateiramente nas mentes dos fracos, a saber, se Deus estende esta proteção a todo e qualquer indivíduo. Quando, porém, o salmista o introduz como que mantendo vigilância e custódia, por assim dizer, sobre a segurança dos fiéis, não há razão por que algum deles deva tremer ou hesitar em seu íntimo por um longo período, uma vez ser indubitável que Deus está presente com ele e o assiste, desde que o mesmo permaneça tranquilo sujeito à providência divina. À luz deste fato, também surge ainda mais claramente quão veraz era o que o salmista acabava de dizer: quão bem-aventurado é o povo cujo Deus é SENHOR, porque sem ele toda a força e riquezas que porventura possuamos serão ilusórias e perecíveis; enquanto, com um único olhar, ele defende seu povo, supre suas necessidades, o alimenta no tempo de fome e o preserva vivo quando se acha destinado à morte. Toda a raça humana, sem dúvida, é sustentada pela providência divina; mas sabemos que seu cuidado paternal especialmente se destina não a qualquer um, senão a seus próprios filhos, os quais têm consciência de que suas necessidades são por ele realmente levadas em conta.

Além disso, quando se afirma que Deus, em tempos de fome e de morte, tem disponível um antídoto para preservar a vida dos piedosos, somos instruídos que só os fiéis prestam a devida honra à providência divina quando não permitem que seus corações percam o alento e cheguem a mais extrema indigência; mas, ao contrário, que despertem suas esperanças mesmo nos recessos do túmulo. Deus às vezes permite que seus servos sofram fome por algum tempo, para que depois os sacie, e que os envolve com as trevas da morte, para que a seguir os restaure à luz da vida. Sim, só começamos a pôr nossa firme confiança nele quando a morte surge diante de nossos olhos; porque, até que conheçamos, por experiência, a vacuidade dos auxílios do mundo, nossos afetos continuarão enredados por eles e a eles atados. O salmista caracteriza os crentes por duas marcas, as quais compreendem toda a perfeição de nossa vida. A primeira consiste em que reverentemente sirvamos ao Senhor; e a segunda, que dependamos de sua graça. Quando os fiéis se entregam, de todo o coração, ao serviço e temor de Deus, este afeto emana da fé; ou, melhor, a parte principal do verdadeiro culto que os fiéis rendem a Deus consiste nisto: que dependam da misericórdia divina.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário.

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