“QUE NOS SALVOU E NOS CHAMOU COM SANTA VOCAÇÃO”
“Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas
obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em
Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2Tm 1.9).
Pela visão da grandeza da bênção, o apóstolo Paulo demonstra o quanto
devemos a Deus, porque a salvação que ele nos outorgou facilmente absorve todos
os males que suportamos neste mundo. O termo “salvou”, ainda que seu significado seja de
caráter geral, aqui, neste contexto, refere-se somente à salvação eterna. Seu
significado consiste em que não haviam recebido através de Cristo nenhum livramento
passageiro e transitório, e, sim, uma salvação eterna, e desse modo se
revelariam extremamente ingratos, caso valorizassem sua vida fugaz, ou sua
reputação, em vez de reconhecê-lo como seu Redentor.
Paulo diz que fomos chamados com “santa vocação”. Ele faz de nossa
vocação o selo infalível de nossa salvação. Pois como a salvação foi consumada
na morte de Cristo, assim Deus nos faz partícipes dela através de Cristo. Para
magnificar essa vocação ainda mais, ele a qualifica de santa. Tal fato deve ser
cuidadosamente observado, pois assim como temos de buscar a salvação
exclusivamente em Cristo, ele também teria morrido em vão e a troco de nada
caso não nos chamasse para participarmos desta graça. Portanto, mesmo depois de
haver, com sua morte, nos conquitado a salvação, uma segunda bênção resta ser outorgada,
a saber, que ele nos uniria em seu Corpo e nos comunicaria seus benefícios a
fim de desfrutarmo-los.
O apóstolo também nos chama a atenção para a fonte, quer de nossa vocação,
quer de nossa salvação total. Não possuímos obras que sejam capazes de tomar a
iniciativa em lugar de Deus, de modo que a nossa salvação depende absolutamente
de seu gracioso propósito e eleição. Ainda que Paulo geralmente use o temo “determinação”
no sentido de “o decreto secreto de Deus”, o qual depende exclusivamente dele, o
apóstolo, aqui, decide adicionar “graça” com o fim de tornar sua tese
ainda mais explícita e poder excluir completamente toda e qualquer referência
as obras. A antítese, neste versículo, por si só é suficiente para deixar
completamente claro que não há espaço algum para as obras onde reina a graça de
Deus, especialmente quando somos lembrados da eleição divina, através da qual
ele antecipou eleger-nos antes que viéssemos à existência.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
Nenhum comentário:
Postar um comentário