"DEUS NÃO NOS TEM DADO ESPÍRITO DE COVARDIA"
"Porque Deus não nos tem
dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação" (2Tm 1.7).
Este versículo confirma a afirmação anterior de Paulo, pela qual ele
prossegue insistindo com Timóteo a apresentar evidência do poder dos dons que
recebera. Ele apela para o fato de que Deus governa seus ministros pelo
espírito de poder que é o oposto do espírito de covardia. Daqui se conclui que
eles não devem cair na indolência, mas que devem animar-se com profunda segurança
e ardorosa atividade, e que exibam com visíveis resultados o poder do Espírito.
Há uma passagem em Romanos 8.15 que, à primeira vista, se assemelha muito a
esta; o contexto, porém, revela que o sentido é diferente. Ali, ele está
tratando da confiança na adoção possuída por todos os crentes; aqui, porém, sua
preocupação é especificamente com os ministros e os exorta na pessoa de Timóteo
a animar-se para dinâmicos feitos de bravura, pois o Senhor não quer que
exerçam seu ofício pastoral com apatia, senão que avancem com todo vigor,
confiando na eficácia do Espírito.
“Mas de poder, de amor e de moderação”. Daqui aprendemos que nenhum de nós possui
em si mesmo a excelência de espírito e a inabalável confiança necessária no
exercício de nosso ministério; devemos ser revestidos com o novo poder do alto.
Os obstáculos são tantos e tão imensuráveis, que nenhuma coragem humana é
suficiente para transpô-los. Portanto, é Deus quem nos equipa com o Espírito de
poder. Pois aqueles que, por outro lado, revelam grande força, caem quando não
são sustentados pelo poder do Espírito de Deus.
Em segundo lugar, inferimos que os que são tímidos e servis como
escravos, de modo que, quando precisam soerguer-se não ousam tomar qualquer
iniciativa em defesa da verdade, esses não são governados pelo Espírito que age
sobre os servos de Cristo. Daí se conclui que mui poucos daqueles que se
denominam ministros de Cristo, hoje,
dão mostras de ser genuínos. Pois dificilmente se encontrará entre eles um que,
confiando no poder do Espírito, destemidamente desdenhe de toda altivez que se exalta
contra Cristo! Acaso a grande maioria não se preocupa mais com seu próprio interesse?
Não se prostram mudos assim que estala algum problema? Como resultado, em seu
ministério não resplandece nada da majestade de Deus.
Mas, por que depois de poder ele acrescenta amor e moderação? Em minha
opinião, é para distinguir o poder do Espírito do excessivo zelo dos fanáticos
que se precipitam numa desenfreada pressa e se gabam de possuir o Espírito de
Deus. Portanto, o apóstolo Paulo explicitamente declara que a poderosa energia
do Espírito é temperada pelo amor e sobriedade, ou seja, por uma serena
solicitude pela edificação. Paulo não está negando que o mesmo Espírito fosse
comunicado aos profetas e mestres antes da publicação do evangelho, mas insinua
que essas duas graças seriam especialmente evidentes e poderosas sob o reino de
Cristo.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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