“QUEM ÉS TU, Ó HOMEM, PARA DISCUTIRES COM DEUS?!
“Quem és tu, ó homem,
para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez:
Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo
barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?” (Rm 9.20,21).
Como vemos, o apóstolo
Paulo continua insistindo sobre a necessidade de considerarmos justa a vontade
Deus, embora possa ser que a razão para isto nos esteja oculta. Ele mostra que
Deus é usurpado de seu direito, caso não seja livre para tratar com suas
criaturas segundo seu modo justo de proceder. Isto parece desagradável a muitos.
Outros alegam ainda que Deus seria muitíssimo desonrado caso um poder tão
arbitrário lhe seja atribuído. Mas seu escrúpulo faz deles melhores teólogos
que Paulo, o qual estabeleceu como regra a humildade para os crentes, que
devessem erguer os olhos para a soberania divina, e que não seja ela medida
pelos seus tacanhos critérios.
Paulo reprime a tendenciosa
arrogância de se contender com Deus, fazendo uso de uma metáfora mui
apropriada, na qual sua alusão parece ser a Isaías 45.9, e não a Jeremias 18.6.
A verdade que aprendemos de Jeremias é aquela em que Israel se acha na mão do
Senhor, de modo que, por causa de seus pecados, Deus pode quebrá-lo em muitos
pedaços, como faz um oleiro a seu vaso de barro. Mas Isaías avança mais. Diz
ele: “Ai daquele que contende com o seu Criador! E não passa de um caco de
barro entre outros cacos. Acaso dirá o barro aos que lhe dá forma: Que fazes?”
Não há, seguramente, nenhuma razão plausível para um mortal imaginar-se
superior a um vaso de barro, quando é ele confrontado com Deus.
Esta é a razão por que
a coisa formada jamais deve discutir com aquele que a formou, porque este tem
direito de fazê-la como queira. O termo direito
não significa que o modelador tenha o direito ou o poder de fazer o que lhe
agrada, mas que o poder de agir com retidão lhe pertence. Paulo não pretende
reivindicar para Deus um poder desordenado, senão que lhe atribui o poder de
agir com perfeita equidade.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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