“SE TODOS PROFETIZAREM, E ENTRAR ALGUM INCRÉDULO”
“Porém, se todos
profetizarem, e entrar algum incrédulo ou indouto, é ele por todos convencido e
por todos julgado” (1Co 14.24).
Assim como previamente
mostrara como a profecia é mais benéfica do que as línguas aos que são da
família da fé, agora o apóstolo Paulo ensina que ela é também de grande valor
para os de fora. Este é o argumento mais poderoso para provar que os coríntios
trilhavam a vereda do erro. Pois era extremamente perverso de sua parte dar
pouca importância a um dom que gera imenso benefício aos que vivem fora da
igreja, tanto quanto aos que vivem dentro de seus muros. Ele realça o efeito
que a profecia produz, a saber: ela intima as consciências dos incrédulos a
comparecerem perante o tribunal divino, e as satura de uma mui vívida
realização do juízo divino, de modo que qualquer um que em sua indiferença costuma
menosprezar a sã doutrina é constrangido a glorificar a Deus.
Acharemos, porém, muito
mais fácil entender este versículo se compararmos com outro, a saber, Hebreus
4.12: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que
qualquer espada de dois gumes, e penetra até o ponto de dividir alma e
espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do
coração”. Pois em ambos os textos se diz que a Palavra de Deus possui o mesmo
tipo de eficácia, porém, em Hebreus, a descrição é muito mais completa e clara.
No tocante ao versículo que se acha diante de nós, agora não resta qualquer dificuldade
em entendermos o que significa ser convencido
e ser julgado. As consciências dos homens se acham adormecidas e inativas,
bem como insensíveis ao senso de descontentamento com seus pecados, visto que
se desenvolveram nas trevas da ignorância. Em resumo, a descrença é como
sonolência que faz alguém impassível. Mas a Palavra de Deus penetra até aos
recantos mais íntimos da mente, e, ao trazer a luz, por assim dizer, dissipa as
trevas e expulsa a letargia letal. Portanto, esta é a forma em que os incrédulos
são convencidos, porque, assim que compreendem que é com Deus que terão de
tratar, ficam seriamente perturbados e deveras assustados e temerosos. É assim
que também são julgados, porque, enquanto viviam envoltos por trevas, quando
não faziam a menor ideia do estado miserável e vergonhoso de suas vidas, agora
são trazidos à luz e dão testemunho contra si mesmos.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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