"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



quinta-feira, 25 de julho de 2024

“NAS TUAS MÃOS, ENTREGO O MEU ESPÍRITO”


“NAS TUAS MÃOS, ENTREGO O MEU ESPÍRITO”

“Nas tuas mãos, entrego o meu espírito; tu me remiste, SENHOR, Deus da verdade" (Sl 31.5).

O salmista Davi uma vez mais declara sua fé em Deus e afirma que nutria pensamentos tão elevados acerca da providência divina, que depositava sobre ela todas as suas preocupações. Todos quantos se põem nas mãos de Deus e se confiam à sua proteção, não só o constitui o árbitro da vida e da morte, mas também serenamente passam a depender dele para sua proteção em meio a todos os perigos que porventura enfrentem. É preciso observar que não é possível que alguém encomende sua vida a Deus com sinceridade, senão aquele que se considera exposto a milhares de mortes e cuja vida pende por um fio. Achando-se Davi assim ao ponto de desespero, nada tem a fazer senão isto: seguir seu caminho, confiando em Deus como o guardador e governador de sua vida. É espantoso que, embora muitas coisas aflijam a todos nós, dificilmente encontramos um em cem que seja tão sábio ao ponto de encomendar sua vida às mãos divinas. Multidões vivem dia a dia tão eufórica e displicentemente como se estivessem deitadas em quietas redes, isentas de toda perturbação; tão logo, porém, encontrem algo que as terrifique, se sentem como se a angústia as destruísse. Assim sucede que nunca se rendem a Deus, seja porque se iludem com vãs ilusões, gabando-se de que tudo lhes irá bem, ou porque se sentem tão estremecidos de medo, tão petrificados com espanto que não nutrem qualquer alento de entregar-se ao seu cuidado paterno. Além do mais, quando as várias tempestades de tristeza nos perturbam, ou nos desviam da reta vereda do dever, ou no mínimo nos arrancam de nosso posto, o único antídoto que existe para acalmar tais coisas é considerar que Deus é o Autor e preservador de nossas vidas. Este, pois, é o único meio de aliviar todas as nossas cargas e impedir-nos de sermos tragados por tantas preocupações. Visto, pois, que Deus se condescende em tomar cuidado de nossa vida e de suportá-la, embora seja ela repetidas vezes exposta a diversas sortes de morte, aprendamos sempre a buscar refugio em seu abrigo; não só isso, mas quanto mais alguém se vê exposto aos perigos, mais se exercita a meditar criteriosamente em seu zelo por nós. Em suma, que seja este nosso escudo contra todos os perigosos ataques - nosso céu em meio a todas as agitações e tempestades -, a saber, embora nossa segurança esteja além de toda e qualquer esperança humana, Deus é o fiel guardião dela; e que isso também nos desperte à oração, para que ele nos defenda e garanta nosso livramento.

Concluindo, quem quer que não confie na providência divina, bem como não encomende sua vida à fiel diretriz dela, ainda não aprendeu corretamente o que significa viver. Em contrapartida, aquele que confiar a guarda de sua vida ao cuidado divino, não duvidará de sua segurança mesmo em face da morte. Devemos, pois, depositar nossa vida nas mãos de Deus, não só para que ele a conserve em segurança neste mundo, mas também para que a preserve da destruição da própria morte, como o próprio exemplo de Cristo nos tem ensinado. Da forma como Davi desejava ter sua vida prolongada em meio aos perigos mortais, assim Cristo enfrentou esta vida transitória para que sua alma fosse salvaguardada na morte. Portanto, esta é uma oração geral, na qual os fiéis encomendam suas vidas a Deus, para que ele os proteja pela instrumentalidade de seu poder, sempre que se veem expostos aos perigos deste mundo. Devemos igualmente assegurar-nos de que não somos esquecidos de Deus, quer na vida quer na morte; porquanto os que Deus protege com seu poder até o término de sua jornada, por fim os recebe em seu seio quando morrem. Esta é uma das principais passagens da Escritura à luz da qual podemos com mais eficácia corrigir nossa incerteza. Ela nos ensina, em primeiro lugar, que os fiéis não devem atormentar-se acima da medida com infelizes preocupações e ansiedades; e, em segundo lugar, não devem viver tão dominados pelos temores ao ponto de cessarem de realizar seus deveres; nem definhar e desfalecer de tal maneira ao ponto de se valerem de vãs esperanças e de enganosos auxílios; nem dar vazão aos temores e aos estresses; e, por fim, que não temam a morte, a qual, ainda que destrua o corpo, não pode extinguir a alma. Este deveras deve ser nosso principal argumento a fim de subjugar todas as tentações, a saber, que Cristo, ao encomendar sua alma a seu Pai, garantiu a proteção das almas de todo o seu povo. Estêvão, pois, o invoca para que fosse seu guardador, dizendo: “Senhor Jesus, recebe meu espírito” [At 7.59]. Uma vez que a alma é a sede da vida, ela, neste respeito, como se sabe muito bem, é usada para significar a vida.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário.

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