“SERVO DE DEUS E APÓSTOLO DE JESUS CRISTO”
“Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus
Cristo, para promover a fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da
verdade segundo a piedade, na esperança da vida eterna que o
Deus que não pode mentir prometeu antes dos tempos eternos e,
em tempos devidos, manifestou a sua palavra mediante a pregação que me foi
confiada por mandato de Deus, nosso Salvador, a Tito,
verdadeiro filho, segundo a fé comum, graça e paz, da parte de Deus Pai e de
Cristo Jesus, nosso Salvador” (Tt 1.1-4).
Esta longa e detalhada recomendação de seu apostolado revela que Paulo
tinha em mente toda a Igreja, e não simplesmente a pessoa de Tito. Pois o seu
apostolado não estava sendo impugnado por Tito; e ele tinha por costume
proclamar os louvores de sua vocação quando desejava asseverar e manter sua
autoridade. Portanto, à medida do conhecimento que ele tem da disposição
daqueles a quem está escrevendo, ocupa-se extensamente desses ornamentos. Já
que seu propósito aqui é submeter os que estavam comprometidos em rebeliões
insolentes, ele enaltece seu apostolado em termos imponentíssimos. Ele escreve
esta carta, não para que Tito a lesse sozinho, mas para que fosse publicada abertamente.
Em primeiro lugar, Paulo se denomina servo de Deus, e
então adiciona a designação específica de seu ministério: apóstolo
de Cristo. E assim ele desce do gênero para a espécie. Devemos lembrar
que, como já disse em outro lugar, o termo “servo” não significa apenas
sujeição ordinária, no sentido em que todos os crentes podem ser chamados
servos de Deus, mas significa um ministro a quem se destina certo ofício
definido. Nesse sentido, os antigos profetas foram caracterizados por esse
título, e Cristo mesmo é o principal dos profetas. “Eis aqui o meu servo, a
quem sustenho; o meu escolhido, em quem a minha alma se compraz” (Is 42.1). E
assim Davi, diante de sua dignidade real, a si mesmo se denomina - “servo de
Deus”. É provável que Paulo tivesse também seus olhos postos nos judeus que se
denominavam de “servos de Deus”, pois formaram o hábito de amesquinhar sua
autoridade, lançando-lhe em rosto a lei [de Moisés]. Ele deseja ser tido na
conta de apóstolo de Cristo com o intuito de poder também gloriar-se de ser,
dessa forma específica, um “servo de Deus”. E assim ele mostra que esses dois
títulos são não só consistentes entre si, mas também se acham atados um ao
outro por vínculo indissolúvel.
Deus nos abençoe
João Calvino (1509-1564).
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