“QUE REAVIVES O DOM DE DEUS QUE HÁ EM TI”
“Pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que,
primeiramente, habitou em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice, e estou certo de
que também, em ti. Por esta
razão, pois, te admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti pela imposição
das minhas mãos” (2Tm 1.5,6).
O apóstolo Paulo enaltece a fé tanto de Timóteo quanto de sua vó e sua
mãe, mais para encorajá-lo do que para elogiá-lo. Pois quando alguém sente que
fez bom e corajoso começo, seu progresso deve injetar-lhe ânimo para avançar
mais, e os exemplos de seu próprio círculo familiar são o mais forte incentivo
a impulsioná-lo para frente. Essa é a razão por que ele pôs sua avó, Lóide, e
sua mãe, Eunice, por cuja instrumentalidade fora educado em sua infância, de
uma forma tal que ele pôde nutrir-se da piedade.
“Por esta razão, pois,
te admoesto que reavives o dom de Deus”. O que Paulo quer dizer é que, quanto
mais abundante for a participação que Timóteo tiver na graça que recebera, mais
intenso deve ser o seu desejo de progredir diariamente. É preciso que atentemos
bem como as palavras, por esta razão, conectam
esta passagem com o que vem antes. Porque esta exortação é sumamente
necessária, pois sucede com frequência, e deveras é muito natural, que a
excelência dos dons produz descuido e frouxidão, sendo essa a maneira na qual
Satanás age continuamente a fim de extinguir em nós tudo quando provém de Deus.
“Que há em ti pela
imposição das minhas mãos”. Não há dúvida que Timóteo fora
solicitado a ser ministro pelo sufrágio comum da Igreja, e que não fora
escolhido pela seleção pessoal da iniciativa de Paulo, mas é mui compreensível
que Paulo atribua a eleição a ele pessoalmente, visto ter sido seu principal
incentivador. Mas aqui ele está tratando de sua ordenação, e não de sua
eleição, ou seja, do solene ato de instituição ao ofício de pastor: “Não
negligencies o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com
a imposição das mãos do presbitério [1Tm 4.14].
A imposição de
mãos era um fiel emblema da graça que eles recebiam da própria mão de Deus.
Essa cerimônia não era um ato profano, engendrado só com o intuito de obter
autoridade aos olhos dos homens, mas era um legítimo ato de consagração diante
de Deus, algo que só poderia ser efetuado pelo poder do Espírito Santo. É
verdade que Timóteo se distinguia tanto em doutrina quanto em outros dons antes
que Paulo o designasse para o ministério. Mas não há incongruência alguma em ele
sustentar que quando Deus propôs usar Timóteo em sua obra, e convocá-lo para a
sua realização, ele então o capacitou e o enriqueceu ainda mais com novos dons,
ou conferiu-lhes uma dupla porção daqueles que já havia recebido. Portanto, não
significa que Timóteo não possuísse nenhum dom antes de sua ordenação, senão
que esses dons se manifestaram mais gloriosamente quando a função docente lhe
foi conferida.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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