“MINHA ALMA ESTÁ EM SILÊNCIO PERTO DE DEUS”
“Apesar de
tudo, minha alma está em silêncio perto de Deus; dele é minha salvação. Apesar
de tudo, ele mesmo é minha rocha e minha salvação, minha torre alta; não serei
grandemente abalado” (Sl 62.1,2).
Sabemos que o
povo de Deus nem sempre pode atingir uma medida conveniente de compostura
quando se vê totalmente sem distração. Desejariam receber a palavra do Senhor
com submissão, bem como quedar-se mudo sob sua mão disciplinar; emoções
desordenadas, porém, tomam posse de suas mentes e rompem aquela paz que, de
outra forma, poderiam atingir no exercício da fé e resignação. Daí a impaciência
que encontramos em muitos; impaciência esta a que dão vazão na presença de Deus
e a qual lhes propicia ocasião para muitos problemas e inquietude. Devemos
presumir que Davi enfrentava íntima e profunda luta e oposição, as quais ele
cria ser necessário refrear. Satanás havia despertado forte tumulto em suas emoções
e operado acentuado grau de impaciência em sua mente, o que ele agora coíbe; e
expressa sua firme resolução de ficar em silêncio, indicando o oposto daquilo que inflama o espírito, o que nos poria numa
postura de resistência a Deus. O silêncio aludido, em suma, equivale aquela
submissão apaziguada do crente, no exercício da qual ele aquiesce com as
promessas de Deus, dá lugar à sua palavra, se dobra à sua soberania e sufoca
toda e qualquer murmuração interior de insatisfação que porventura exista.
O crente
triunfa no encontro com uma tentação para logo enfrentar outra; e aqui Davi, que
parecia ter emergido de sua angústia, mostra que teria que lutar com resíduo de
dificuldades. A expressão no final do versículo - não serei grandemente abalado - implica sua persuasão de que
poderia ser surpreendido por aflições (pois estava bem consciente de que não
podia esperar isenção da comum sorte da humanidade), mas sua convicção, ao
mesmo tempo, era que estas não o esmagariam ante o bom auxílio de Deus. Encontramos
mais tarde o salmista dizendo, não com muitas palavras: não cairei; talvez porque sentia, enquanto prosseguia em oração, que tinha
mais ousadia em menosprezar a aflição. A verdade, propriamente dita, é
inquestionável. O crente pode ser vencido por algum tempo; mas, visto que ele não
é humilhado por muito tempo sem que Deus o soerga novamente, não lhe seria possível
dizer com propriedade cairei. Ele é sustentado pelo Espírito
de Deus, e, portanto não permanece realmente prostrado e derrotado.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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