“SOMENTE EM DEUS, Ó MINHA ALMA, ESPERA SILENCIOSA”
“Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa, porque dele vem a minha esperança” (Sl 62.5).
Davi estava em silêncio
diante de Deus; que necessidade, pois, haveria de um novo silêncio, como se ele
ainda estivesse dominado pela agitação de espírito? É preciso ter em mente que
não podemos jamais esperar que nossas mentes alcancem uma perfeita postura,
quando eclodir aquele sentimento íntimo de inquietude, senão que, na melhor das
hipóteses, são como o mar sob o impulso da mais leve brisa, flutuando
suavemente, quando não engolfado por vagalhões. Não é sem luta que os santos
recompõem sua mente; e podemos muito bem entender como Davi associava a mais
perfeita submissão a um espírito que já era submisso, instando consigo mesmo a
aprofundar-se ainda mais nesta graça do silêncio, até que mortificasse toda
inclinação carnal e se sujeitasse totalmente à vontade de Deus. Além disso, com
quanta frequência Satanás renovará as inquietudes que pareciam estar
eficientemente repelidas! Repito que não há motivo de nos
sentirmos surpresos que aqui Davi apele a si mesmo segunda vez a preservar o
mesmo silêncio diante de Deus, o qual já parecia ter obtido; porque, em meio às
confusas comoções da carne, nunca alcançamos a perfeita postura mental. O
perigo é que, ao surgir novos ventos de dificuldades, podemos perder aquela tranquilidade
íntima de que desfrutávamos, e daí a necessidade de cultivarmos o exemplo de
Davi, nos firmando nele mais e mais. Ele adiciona a razão de seu silêncio. Não
obtivera ainda a imediata resposta de Deus, mas confiadamente esperava nele. Minha esperança, diz ele, está em Deus. É como se dissesse: A
paciente espera de seus santos jamais será frustrada; sem dúvida, meu silêncio
se deparará com sua recompensa; restringir-me-ei, e não deixarei que a falsa
pressa faça parecer que meu livramento se tornou por demais demorado.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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