"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



segunda-feira, 26 de agosto de 2024

“UMA VEZ FALOU DEUS; DUAS VEZES OUVI ISTO”


“UMA VEZ FALOU DEUS; DUAS VEZES OUVI ISTO”

“Uma vez falou Deus; duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus” (Sl 62.11).

O salmista Davi considerava que o único método eficaz de abstrair as mentes dos homens das vãs ilusões, em que se dispõem a confiar, era levá-los a se conscientizarem implícita e firmemente do juízo divino. Geralmente se agitam em diferentes direções, ou, pelo menos, se dispõem à oscilação assim que observam as coisas mutáveis deste mundo. Mas ele mantém sob observação um princípio mais acurado para a regulamentação de sua conduta, quando recomenda um respeito diferenciado pela Palavra de Deus. Deus, propriamente dito, “habita em luz inacessível” [lTm 6.16]; e já que ninguém pode chegar a ele sem que esteja munido de fé, o salmista chama nossa atenção para sua Palavra, na qual testifica a veracidade de seu divino e justo governo do mundo. É de grande importância que sejamos estabelecidos na fé proveniente da Palavra de Deus; e aqui somos conduzidos à infalível inerrância que lhe é inerente. A passagem admite duas interpretações; o escopo dela, porém, é claramente este: que Deus age consistentemente consigo mesmo, e jamais poderá desviar-se do que ele disser. Muitos entendem Davi como a dizer que Deus falou uma vez e uma segunda vez; e que por esta afirmação explícita e reiterada de seu poder e misericórdia, ele confirmou a verdade além de toda e qualquer possibilidade de contradição. Há uma passagem que contém o mesmo efeito no capítulo trinta e três, versículo quatorze, do livro de Jó, onde as mesmas palavras são empregadas, tendo apenas a conjunção como interposição. Se alguém o preferir, contudo, não faço objeções a outro significado - Deus falou uma vez; duas vezes ouvi isto. Isso concorda com o contexto e pressupõe uma lição prática de grande importância; pois quando Deus tiver uma vez emitido sua palavra, jamais se retratará. De um lado, é nosso dever ponderar sobre o que ele disse, demorada e deliberadamente; e a intenção de Davi então será que ele considerou a Palavra de Deus à luz de um decreto, fixo e irreversível, mas que, como considerava seu exercício em referência a ele, então meditava sobre o mesmo vezes e mais vezes, a fim de que o lapso de tempo não o obliterasse de sua memória. Mas a redação mais simples e preferível parece ser esta: Deus falou uma vez e outra vez. Não há consistência na engenhosa conjectura de que a alusão poderia ser que Deus uma vez falou na Lei, e a segunda vez nos Profetas. Nada mais está embutido além do fato de que a verdade referida fora simplesmente confirmada, sendo comumente reputado como certo e fixo aquilo que tem sido reiteradamente anunciado. Aqui, contudo, deve-se lembrar que toda palavra que foi pronunciada por Deus deve ser recebida com autoridade implícita, e não a aprovação dada à abominável prática da recusa de receber uma doutrina, a menos que ela seja apoiada por dois ou três textos da Escritura. Isto tem sido defendido por um herege sem princípios [que vive] entre nós, o qual tem tentado subverter a doutrina da soberana eleição e da secreta providência. Não era a intenção de Davi dizer que Deus estava preso à necessidade de repetir o que tencionasse anunciar, mas simplesmente afirma a infalibilidade de uma verdade que havia declarado em termos claros e sem ambiguidade. No texto que se segue [v.12], ele toma a si como exemplo daquela reverência e daquele respeito diferenciados que nutria pela Palavra de Deus que se estendia a todos, mas que tão poucos realmente a atendiam.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
*Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário