“A PALAVRA DE PERDÃO” - Introdução
“Então, dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc 23.34).
Aquele por quem o mundo foi feito veio ao mundo, mas o mundo não o conheceu. O Senhor da glória tinha tabernaculado entre os homens, mas não foi desejado. Os olhos que o pecado tinha cegado não viram nele nenhuma beleza alguma pela qual ele pudesse ser desejado. Em seu nascimento não havia nenhum quarto na hospedaria, o que prenunciava o tratamento que receberia das mãos dos homens. Pouco tempo após seu nascimento, Herodes procurou matá-lo, e isso sugeria a hostilidade que sua pessoa evocava e predizia a cruz como o clímax da inimizade do homem. Repetidas vezes seus inimigos tentaram sua destruição. E agora os vis desejos deles fora-lhes concedidos. O Filho de Deus tinha se rendido nas mãos deles. Um arremedo de julgamento havia acontecido e, embora seus juízes não tenham encontrado nenhuma falta nele, todavia, eles se rederam ao clamor insistente daqueles que o odiavam à medida que eles repetidamente clamavam: “Crucifica-o”.
Uma ação
bárbara tinha sido feita. Nenhuma morte ordinária satisfaria seus inimigos implacáveis.
Foi decidida uma morte de sofrimento e vergonha intensas. Uma cruz tinha sido
assegurada: o Salvador seria pregado nela. E ali ele foi pendurado — em
silêncio. Mas nesse instante seus lábios pálidos são vistos se mexendo — ele
está clamando por piedade? Não. O que então? Ele está pronunciado maldição
sobre aqueles que estão lhe crucificando? Não. Ele está orando, orando pelos
seus inimigos — “E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”
(Lc 23.34).
Essa primeira
das sete palavras na cruz do nosso Senhor o apresenta em atitude de oração. Quão significante! Quão
instrutivo! Seu ministério público tinha sido aberto com oração (Lc 3.21), e
aqui vemos ele sendo fechado com oração. Certamente ele nos deixou um exemplo!
Não mais aquelas mãos ministrariam ao doente, pois estavam pregadas no madeiro
cruel; não mais aqueles pés poderiam levá-lo nas tarefas de misericórdia, pois
estavam presas no madeiro cruel; não mais ele poderia se ocupar na instrução
dos apóstolos, pois eles haviam fugido. Como então ele se ocupou?
No ministério da oração! Que lição para nós.
Talvez essas
linhas possam ser lidas por alguém que, por razão da idade e doença, não é mais
capaz de trabalhar ativamente na vinha do Senhor. Possivelmente nos dias de outrora
você era um professor, um pregador, um professor de escola dominical, um distribuidor
de panfletos: mas agora você está de cama. Sim, mas você ainda está aqui na
terra! Quem sabe Deus não está deixando você aqui mais uns poucos dias para te engajar
no ministério da oração — e talvez realizar mais
através disso que por todo seu ministério passado ativo. Se você for
tentado a depreciar tal ministério, lembre-se do seu Salvador. Ele orou, orou
por outros, orou por pecadores, até mesmo em suas últimas horas.
Ao orar por
seus inimigos, Cristo não somente colocou diante de nós um exemplo perfeito de
como devemos tratar aqueles que nos prejudicam e nos odeiam, mas ele também nos
ensinou a nunca considerar algo como além
do alcance da oração. Se Cristo orou por seus assassinos, então certamente
temos encorajamento para orar agora pelo maior de todos os pecadores! Leitor
cristão, nunca perca a esperança.
Parece para você um desperdício de tempo continuar
orando por aquele homem, por aquela mulher, por aquele seu filho obstinado?
O caso deles parece se tornar mais
sem esperança a cada dia? Parece como se eles estivem além do alcance da misericórdia divina? Talvez alguém por quem você
tem orado por tanto tempo foi enlaçado por uma das seitas satânicas de hoje, ou
ele pode ser agora um infiel declarado e desbragado; em resumo, um inimigo
aberto de Cristo. Lembre-se então da cruz. Cristo
orou por seus inimigos. Aprenda
então a não olhar para nada como estando além
do alcance da oração.
Um outro
pensamento concernente a essa oração de Cristo. Devemos mostrar aqui a eficácia
da oração. Essa intercessão de Cristo na cruz por seus inimigos recebeu uma resposta
marcada e definida. A resposta é vista na conversão das três mil almas no dia de
Pentecoste. Eu baseio essa conclusão em Atos 3.17, onde o apostolo Pedro diz:
“E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos
príncipes”. Deve ser notado que Pedro usa a palavra “ignorância”, que
corresponde ao “não sabem o que fazem” do nosso Senhor. Eis aí a explicação
divina dos 3.000 conversos com um simples sermão. Não foi a eloquência de Pedro
a causa, mas a oração do Senhor. E, leitor cristão, o mesmo é verdadeiro para
nós. Cristo orou por você e por mim antes de crermos nele. Volte-se para João
17.20 para conferir. “Eu não rogo somente por estes (os apóstolos), mas também
por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em mim” (Jo 17.20). Uma vez
mais beneficiemo-nos do exemplo perfeito. Façamos intercessão também pelos
inimigos de Deus e, se orarmos com fé, também será eficaz para a salvação dos
pecadores perdidos.
Deus nos
abençoe!
Arthur W. Pink
(1886-1952).
*Faça-nos uma oferta (Pix 083.620.762-91).
Amém🙏
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