“A PALAVRA DE SALVAÇÃO” - Parte 1
“E disse a Jesus: Senhor, lembra-te
de mim quando entrares no teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que
hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23.42,43).
Consideraremos
agora o ladrão em si mesmo, suas várias declarações, seu pedido ao Salvador, e
a resposta de nosso Senhor.
1. Vemos aqui um pecador representativo.
Nunca
chegaremos ao centro desse incidente até considerarmos a conversão desse homem
como um caso representativo, e o próprio ladrão como um caráter representativo.
Há aqueles que procuram mostrar que o caráter original do ladrão penitente era
mais nobre e digno do que o do outro que não se arrependeu. Mas isso não somente
não corresponde à verdade dos fatos nesse caso, como serve para apagar a glória
peculiar dessa conversão e remover dele a maravilha da graça divina. É de
grande importância reparar que, antes do tempo em que um se arrependeu e creu não
havia diferença essencial alguma entre os dois. Na natureza, na história,
nas circunstâncias era um. O Espírito Santo foi cuidadoso em nos contar que ambos
insultaram o padecente Salvador:
“E da mesma
maneira também os príncipes dos sacerdotes, com os escribas, e anciãos, e fariseus,
escarnecendo, diziam: Salvou os outros, e a si mesmo não pode salvar-se. Se é o
Rei de Israel, desça agora da cruz, e crê-lo-emos. Confiou em Deus; livre-o
agora, se o ama; porque disse: Sou Filho de Deus. E o mesmo lhe lançaram também
em rosto os salteadores que com ele estavam crucificados” (Mt 27.41-44).
Realmente
terríveis eram a condição e a ação desse assaltante. À beira de adentrar a eternidade
ele se une aos inimigos de Cristo no terrível pecado de escarnecer dele. Era de
uma torpeza sem paralelo. Pense nisso — um homem na hora em que se aproximava sua
morte ridicularizando o Salvador padecente! Ó que demonstração de depravação humana
e de inimizade natural da mente carnal contra Deus. E, leitor, por natureza há
a mesma depravação herdada dentro de você, e a menos que um
milagre da divina graça seja operado dentro de você, existe a mesma inimizade
contra Deus e seu Cristo presente em seu coração. Você pode não pensar
assim, pode não sentir assim, pode não crer assim. Mas isso não altera o fato.
A palavra dele que não pode mentir declara: “Enganoso é o coração, acima de
todas as coisas, e desesperadamente perverso” (Jr 17.9). Essa é uma
declaração de aplicação universal. Ela descreve o que todo coração
humano é por nascimento natural. E outra vez a mesma escritura da verdade
declara: “porque a mentalidade da carne significa inimizade com Deus, visto
que não está em sujeição à lei de Deus; de fato, nem pode estar” (Rm 8.7).
Isso, também, diagnostica o estado de todo descendente de Adão. “Porque não há
diferença. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.22,23).
Inefavelmente solene é isso: todavia, necessita que nele se insista. Não é
senão quando percebemos nossa desesperadora condição que descobrimos a
necessidade de um Salvador divino. Não é senão quando somos levados a perceber
nossa total corrupção e fraqueza que nos apressamos ao grande médico.
Não é senão quando encontramos nesse ladrão agonizante um retrato de nós mesmos
que o acompanharemos dizendo: “Senhor, lembra-te de mim”. Temos que ser
humilhados antes de sermos exaltados. Temos de ser despidos dos trapos imundos
de nossa justiça própria antes que estejamos prontos para os trajes de
salvação.
Temos de vir a
Deus como mendigos, de mãos vazias, antes que possamos receber o dom da vida
eterna. Temos de tomar o lugar de pecadores perdidos perante ele se quisermos
ser salvos. Sim, temos que reconhecer a nós mesmos como ladrões antes
que possamos ter um lugar na família de Deus. “Mas”, dirá você, “eu não sou
nenhum ladrão! Reconheço que não sou tudo que devo ser. Não sou perfeito. Na
verdade, vou ao ponto de admitir a mim mesmo como pecador. Mas não posso
consentir que esse ladrão represente meu estado e condição.” Ah, amigo,
seu caso é, de longe, pior do que você supõe. Você é um ladrão, e ladrão
da pior espécie. Você rouba a Deus! Suponha que uma firma no Leste
designasse um agente para representá-la no Oeste, e que mensalmente lhe
enviasse seu salário. Mas suponha também que, no fim do ano, os empregadores
descobrissem que, ainda que o agente estivesse descontando os cheques a ele
remetidos, ele tivesse servido uma outra firma durante o tempo todo. Não
seria aquele agente um ladrão? Todavia, tal é precisamente a situação e o
estado de cada pecador. Ele foi enviado a esse mundo por Deus, que o dotou de
talentos e da capacidade de usá-los e valorizá-los. Deus o abençoa com saúde e
vigor; supre cada necessidade sua, e fornece inúmeras oportunidades para
servi-lo e glorificá-lo. Mas com que resultado? As próprias coisas que Deus lhe
dá são mal empregadas. O pecador serve a um outro senhor, precisamente
Satanás. Ele dissipa seu vigor e desperdiça seu tempo nos prazeres pecaminosos.
Ele rouba a Deus. Leitor não salvo, na perspectiva do Céu, sua condição é
desesperadora e seu coração, mau como o daquele ladrão. Veja nele uma figura de
si mesmo.
Deus nos abençoe!
Arthur W. Pink (1886-1952).
*Faça-nos uma oferta (Pix 083.620.762-91).
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