“A PALAVRA DO PERDÃO” - Parte 7
“Então, dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc
23.34).
7. Aqui vemos o triunfo do amor redentor.
Note
atentamente a palavra com a qual nosso texto começa. “Então”. O versículo que imediatamente
o precede é lido assim: “E, quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali o
crucificaram e aos malfeitores, um, à direita, e outro, à esquerda”. Então,
disse Jesus, Pai, perdoa-lhes. “Então” – quando o homem tinha feito o seu pior.
“Então” – quando a vileza do coração humano foi demonstrada em maldade
diabólica e climatérica. “Então” – quando com mãos ímpias a criatura ousou
crucificar o Senhor da glória. Ele poderia ter expressado maldições terríveis
sobre eles. Ele poderia ter lançado os raios da justa ira e os matado. Ele
poderia ter feito a terra abrir a sua boca, de forma que eles caíssem vivos no
abismo. Mas não. Embora sujeito à vergonha indizível, embora sofrendo dor
excruciante, embora desprezado, rejeitado, odiado; todavia, ele clamou: “Pai,
perdoa-lhes”. Esse era o triunfo do amor redentor. “O amor é paciente, é benigno...
tudo sofre... tudo suporta” (1Co 13). Assim foi demonstrado na cruz.
Quando Sansão
chegou na hora da sua morte, ele usou a grande força do seu corpo para abarcar
a destruição de seus antagonistas; mas aquele que era perfeito exibiu a força
de seu amor orando pelo perdão dos seus inimigos. Graça inigualável!
“Inigualável”, dizemos, pois nem mesmo Estevão conseguiu seguir plenamente o
exemplo bendito dado pelo Salvador. Se o leitor se voltar para Atos 7,
descobrirá que o primeiro pensamento de Estevão foi sobre si mesmo, e depois
foi que orou pelos seus inimigos – “E apedrejaram a Estêvão, que em invocação
dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito. E, pondo-se de joelhos, clamou com
grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. E, tendo dito isto,
adormeceu” (At 7.59,60). Mas com Cristo a ordem foi inversa: ele orou
primeiro pelos seus adversários, e no final por si mesmo. Em todas as coisas
ele tem a preeminência.
E agora,
concluindo com uma palavra de aplicação e exortação. Se esse capítulo estiver sendo
lido por uma pessoa não-salva, pedir-lhe-emos seriamente ponderar bem a próxima
sentença – Quão terrível deve ser se opor a Cristo e à sua verdade conscientemente!
Aqueles que crucificaram o Salvador não sabiam o que estavam fazendo. Mas, meu
leitor, há um sentido muito real e solene no qual isso é verdade com respeito a
você também. Você sabe que deve receber a Cristo como seu Salvador, que deve
coroá-lo como Senhor de sua vida, que deve tornar a sua primeira e
última preocupação agradá-lo e glorificá-lo. Fique então avisado; seu perigo é
grande. Se você deliberadamente dá as costas a ele, dá as costas ao único que
pode salvá-lo dos seus pecados, e está escrito: “Porque, se pecarmos
voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não
resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo
e ardor de fogo, que há de devorar os adversários” (Hb 10.26,27).
Resta-nos
apenas adicionar uma palavra sobre a bendita inteireza do perdão divino.
Muitos dentre o povo de Deus ficam intranquilos e perturbados sobre esse ponto.
Eles entendem como é que todos os pecados que cometeram antes de receberem a
Cristo como seu Salvador foram perdoados, mas amiúde não estão livres de
dúvidas com respeito aos pecados que cometem após terem nascido de novo.
Muitos supõem que é possível para eles pecar de uma forma que lhes coloque além
do perdão que Deus lhes concedeu. Supõem que o sangue de Cristo trata somente
com o passado deles, e que até onde diz respeito ao presente e ao futuro, eles
tem que se cuidar por si mesmos. Mas de que valor seria um perdão que pode ser
tirado de mim a qualquer momento? Certamente não pode haver nenhuma paz
estabelecida quando minha aceitação para com Deus e a minha ida ao céu é feita
dependente do meu agarrar-se a Cristo, ou da minha obediência e
fidelidade.
Bendito seja
Deus, o perdão que ele concede cobre todos os pecados – passados, presentes
e futuros. Amigo crente, Cristo não carregou os “seus” pecados em seu próprio
corpo no madeiro? E os seus pecados não eram todos futuros,
quando ele morreu? Certamente, pois naquele tempo você não tinha nascido, e não
tinha cometido nenhum pecado sequer. Muito bem então: Cristo verdadeiramente
levou os seus pecados “futuros” tanto quanto os seus pecados passados. O que a
palavra de Deus ensina é que a alma incrédula é tirada do lugar sem perdão para
onde esse está ligado. Os cristãos são um povo perdoado. Diz o Espírito
Santo: “Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado” (Rm
4.8). O crente está em Cristo, e ali o pecado nunca nos será imputado
novamente. Esse é o nosso lugar ou posição diante de Deus. Em Cristo é onde ele
nos contempla. E porque estou em Cristo, estou completa e eternamente
perdoado; tão perdoado que o pecado nunca será mais será posto sobre mim como
acusação no que toca à minha salvação, mesmo que eu permanecesse na terra por
mais cem anos. Eu estou fora do alcance para sempre. Ouça o testemunho da escritura:
“E, quando vós estáveis mortos nos pecados e na incircuncisão da vossa carne,
(Deus) vos vivificou juntamente com ele (Cristo), perdoando-vos todas
as ofensas” (Cl 2.13). Observe as duas coisas que são aqui unidas (e o que
Deus ajuntou, não o separe o homem!) – minha união com um Cristo ressurreto é
conectada com o meu perdão! Se então minha vida está “oculta com Cristo em
Deus” (Cl 3.3), então eu estou fora para sempre do lugar onde a imputação do
pecado é aplicada. Por conseguinte, está escrito: “Portanto, agora, nenhuma
condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1) – como poderia
existir, se “todas as ofensas” foram perdoadas? Ninguém pode lançar nenhuma acusação
contra os eleitos de Deus (Rm 8.33).
Leitor
cristão, junte-se ao escritor em louvor a Deus, pois nós somos eternamente perdoados
de tudo.
*Deveria
ser adicionado, à guisa de explicação, que é o aspecto judicial que temos tratado
aqui. O perdão restaurador – que é o trazer de volta, novamente à comunhão, um
crente que pecou – tratado em 1João 1.9 – é outra questão totalmente distinta.
Deus nos abençoe!
Arthur W. Pink (1886-1952).
*Faça-nos uma oferta (Pix 083.620.762-91).
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