“AQUELE QUE FURTAVA NÃO FURTE MAIS”
“Aquele que
furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é
bom, para que tenha com que acudir ao necessitado” (Ef 4.28).
Isso tem a ver
não só com os furtos mais graves, os quais são punidos pelas leis, mas também
com aqueles que são de natureza mais secreta, os quais não se expõem ao juízo
humano, todo gênero de depravação movidos pelo qual nos apoderamos de alguma
propriedade alheia. Mas o apóstolo não nos incita simplesmente a abster-nos de
qualquer apreensão injusta e indébita de bem alheios, mas também a prestar
assistência a nossos irmãos, quanto estiver em nosso poder de fazê-lo. “Vós que
furtáveis, não só deveis ganhar a vida com o labor lícito e inofensivo, mas
também deveis repartir com o próximo”. Primeiramente, Paulo nos prescreve esta
norma, para que não supramos nossas necessidades às expensas de nossos irmãos,
mas também para sustentarmos a vida com o labor honesto. E assim o amor nos
leva a fazer muito mais. Ninguém pode viver exclusivamente para si mesmo e
negligenciar o próximo. Todos nós temos de devotar-nos à ação de suprir as
necessidades do próximo.
Todavia, é
possível que se pergunte se Paulo está a obrigar a todos os homens a trabalhar
com as próprias mãos. Isso seria algo muito desagradável. Respondo que o
significado dos termos é muito simples, se devidamente considerados. Ele proíbe
o furto a todas as pessoas; mas muitos preferem a pobreza. Ele antecipa essa
escusa, dizendo-lhes que trabalhassem com as próprias mãos. Como se dissesse:
“Nenhuma condição, por mais dura ou desagradável que seja, justifica qualquer
injúria ao próximo; ou, ainda mais, a ninguém isenta do socorro devido às
necessidades de seus irmãos”.
Paulo amplia
esta última cláusula. Ela contém um argumento do maior para o menor - o que é
bom. Como há muitas ocupações que pouco valem para socorrer os homens em seus
deleites lícitos, o apóstolo recomenda-lhes que escolham aquelas que tragam
benefício a si e a seu próximo. Nem precisamos admirar-nos disso, pois se
aquelas classes voluptuosas de ocupações que só podem trazer corrupção eram
denunciadas pelos pagãos como sendo em extremo vergonhosas, um apóstolo de
Cristo as incluiria para que figurassem entre ocupações lícitas recomendadas
por Deus?
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
*Faça-nos uma oferta (Pix 08362076291).
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