“A PALAVRA DE SALVAÇÃO” - Parte 2
“E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino.
E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc
23.42,43).
2. Aqui nós vemos que o homem tem que ir ao fim de si próprio antes que
possa ser salvo.
Contemplamos na primeira parte esse ladrão agonizante como um pecador representativo, um espécime que é
amostra do que todos os homens são por natureza e prática — por natureza, em
inimizade contra Deus e seu Cristo; por prática, ladrões de Deus, utilizando
mal o que ele nos deu e não conseguindo retribuir-lhe o que é devido.
Devemos ver
agora que esse ladrão crucificado foi também um caso representativo em sua
conversão. E nesse ponto deter-nos-emos unicamente em sua situação de desamparo.
Ver a nós mesmos como pecadores perdidos não basta. Aprender que somos
corruptos e depravados por natureza e transgressores pecaminosos pelas nossas
práticas é a primeira lição importante. A próxima é aprender que estamos
totalmente arruinados, e que não podemos fazer nada que seja para ajudar
a nós mesmos. Descobrir que nossa condição é tão desesperadora que está
inteiramente além da possibilidade de conserto humano, é o segundo passo
rumo a salvação — olhando-a pelo lado humano. Porém, se o homem é lento para
aprender que é um pecador perdido e inapto para estar na presença de um Deus
santo, ele o é ainda mais para reconhecer que nada pode fazer para sua
salvação, e que é incapaz de operar qualquer melhoria em si próprio para se
adequar para Deus.
Todavia, não é
senão até que nos demos conta de que estamos “fracos” (Rm 5.6), que somos
“impotentes” (Jo 5.3), que não é pelas obras de justiça que façamos, mas pela misericórdia
divina que somos salvos (Tt 3.5), que não é senão até que nos desesperemos de
nós mesmos, e olhemos para fora de nós mesmos para um que pode nos
salvar. O grande tipo escriturístico do pecado é a lepra, e para a lepra
o homem não pode inventar cura alguma. Somente Deus pode lidar com essa
pavorosa doença. Assim o é com o pecado. Mas, como dissemos, o homem é lento
para aprender essa lição. É como o filho pródigo, o qual, quando dissipara sua
fazenda na terra longínqua, vivendo dissolutamente, e começou “a padecer
necessidades”, em vez de imediatamente retornar ao seu pai, “foi, e chegou-se a
um dos cidadãos daquela terra”, e foi para os campos a apascentar porcos; em
outras palavras, ele foi ao trabalho. Igualmente, o pecador que é
despertado para a sua necessidade, em vez de ir imediatamente a Cristo, tenta trabalhar
por si mesmo para obter o favor divino. Mas ele não conseguirá coisa melhor que
o pródigo — as bolotas dos porcos serão sua única porção. Ou então, como a mulher
prostrada pela enfermidade por muitos anos. Ela tentou muitos médicos antes de procurar
o grande médico: assim o pecador despertado procura alívio e paz primeiro numa
coisa e depois em outra, até completar o fatigante ciclo das ações religiosas,
e terminar “sem nenhum resultado, mas cada vez piorando mais” (Mc 5.26). Não,
não é senão quando já tinha “gasto tudo o que possuía” que ela procurou
Cristo; e não é senão quando o pecador chega ao fim de seus próprios
recursos que recorrerá ao Salvador.
Antes que
qualquer pecador possa ser salvo, deve ele ir ao lugar da fraqueza reconhecida.
Isso é o que a conversão do ladrão agonizante nos mostra. O que ele podia
fazer? Não podia caminhar pelas sendas da justiça, pois havia um prego
atravessando cada um dos seus pés. Não podia executar nenhuma boa obra, pois
havia um prego atravessando cada uma das mãos. Não podia começar vida nova e
viver melhor, pois que estava morrendo. E, meu leitor, aquelas suas mãos que
tão prontamente agem para justiça própria, e aqueles seus pés que tão
rapidamente correm no caminho da obediência legal, devem ser pregados na cruz.
O pecador teve de ser interrompido em suas próprias obras e feito desejoso
de ser salvo por Cristo. Uma percepção de sua própria condição pecaminosa, de
sua condição perdida, de sua condição de desamparo, não é nada mais, nada
menos, do que o velho ensino da convicção de pecado, e tal é o único pré-requisito
para vir a Cristo para salvação, pois Cristo Jesus veio ao mundo para salvar pecadores.
Deus nos abençoe!
Arthur W. Pink (1886-1952).
*Faça-nos uma oferta (Pix 083.620.762-91).
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