“UMA PROVA DA HUMANIDADE DE CRISTO”
“Sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que a
Escritura se cumprisse, disse: Tenho sede” (Jo 19.28).
“TENHO SEDE”
1. Temos aqui uma prova da humanidade de Cristo.
O Senhor Jesus era Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, mas também foi
homem verdadeiro vindo de homem verdadeiro. Isso é algo para ser crido e não
para que a orgulhosa razão sobre ele especule. A pessoa de nosso adorável
Salvador não é um objeto adequado para a diagnose intelectual; antes, devemos
nos curvar diante dele em adoração. Ele mesmo nos avisou: “Ninguém conhece o
Filho, senão o Pai” (Mt 11.27). E outra vez o Espírito de Deus, através do
apóstolo Paulo, declara: “E evidentemente é grande o mistério da piedade com
que Deus se manifestou em carne” (1Tm 3.16). Enquanto pois há muita coisa
acerca da pessoa de Cristo que nos é insondável ao próprio entendimento,
todavia, tudo que há sobre ele é para se admirar e prestar adoração: em
primeiro lugar, sua deidade e humanidade, e a perfeita união dessas duas em uma
única pessoa. O Senhor Jesus não foi um homem divino, nem um Deus humanizado;
foi o Deus-homem. Para sempre Deus, e agora para sempre homem.
Quando o Amado do Pai encarnou-se, não cessou de ser Deus, nem pôs de
lado nenhum de seus atributos divinos, ainda que tenha se despojado da glória que
tinha com o Pai antes de haver o mundo. Mas na encarnação, o Verbo se fez carne
e tabernaculou entre os homens. Ele não deixou de ser tudo o que era
anteriormente, mas tomou para si o que não tinha antes — humanidade perfeita.
A deidade e a humanidade do Salvador foram, cada uma delas, contempladas
na predição messiânica. A profecia representava aquele que havia de vir, ora
como divino, ora como humano. Ele era o “Renovo do Senhor” (Is 4.2). "Ele
era o Maravilhoso, o Conselheiro, o Deus forte, o Pai dos séculos, o Príncipe
da paz” (Is 9.6). Aquele que haveria de sair de Belém e ser rei em Israel, era
aquele cujas saídas são desde os dias da eternidade (Mq 5.2). Ele era ninguém
menos do que o próprio Jeová que apareceria de repente no templo (Ml 3.1).
Todavia, por outro lado, ele era a “semente” da mulher (Gn 3.15); um profeta
como Moisés (Dt 18.18); um descendente da linhagem de Davi (2Sm 7.12,13). Ele
era o “servo” de Jeová (Is 42.1). Ele era o “homem de dores” (Is 53.3). E é no
Novo Testamento que nós vemos esses dois diferentes grupos de profecias
harmonizados.
Aquele nascido em Belém era o Verbo divino. A Encarnação não significa
que Deus se manifestou como um homem. O Verbo se fez carne; tornou-se o que não
era antes, ainda que nunca cessasse de ser tudo o que fora anteriormente.
Aquele que era em forma de Deus e que não teve por usurpação ser igual a Deus
“aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos
homens” (Fp 2.6,7). O bebê de Belém era Emanuel — Deus conosco —, era mais do
que uma manifestação de Deus, ele era Deus manifestado em
carne. Era tanto Filho de Deus como Filho do Homem. Não duas personalidades
separadas, mas uma pessoa possuindo as duas naturezas — a divina e a humana.
Enquanto aqui na terra, o Senhor Jesus deu provas completas de sua
divindade. Ele falava com sabedoria divina, ele agia em santidade divina, ele
exibia poder divino, e ele mostrava amor divino. Ele lia as mentes dos homens,
movia seus corações e compelia-os em suas vontades. Quando a ele agradava
exercer seu poder, toda a natureza ficava sujeita ao seu mando. Uma palavra
dele e a enfermidade saía, uma tempestade era acalmada, o demônio partia, o
morto retornava à vida. Tão verdadeiramente era ele Deus manifesto em carne,
que podia dizer: “Quem vê a mim vê o Pai”.
Assim, também, quando tabernaculava entre os homens, o Senhor Jesus dava
total prova de sua humanidade — humanidade sem pecado. Ele adentrou a esse
mundo como bebê e estava envolto em panos (Lc 2.7). Quando criança, é-nos dito,
ele “crescia... em sabedoria, e em estatura” (Lc 2.52). Quando menino,
encontramo-lo “interrogando” os doutores (Lc 2.46). Quando homem, seu corpo
esteve “cansado” (Jo 4.6). Ele “teve fome” (Mt 4.2). Ele dormiu (Mc 4.38). Ele
ficou “admirado” (Mc 6.6). Ele “chorou” (Jo 11.35). Ele “orava” (Mc 1.35). Ele
“se alegrou” (Lc 10.21). Ele “gemeu internamente” (Jo 11.33). E aqui em nosso
texto ele clamou: “Tenho sede”. Isso demonstrava sua humanidade. Deus não tem
sede. Os anjos também não. Não a teremos na glória: “Nunca mais terão fome,
nunca mais terão sede” (Ap 7.16). Mas temos sede agora, porque somos humanos e
estamos vivendo num mundo de dor. E Cristo ficou sedento porque era homem:
“Pelo que convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos” (Hb 2.17).
Deus nos abençoe!
Arthur W. Pink (1886-1952).
*Faça-nos uma oferta (Pix 083.620.762-91).
Nenhum comentário:
Postar um comentário